Nos últimos anos, o mercado de mangás cresceu e se estabilizou em nosso país, a ponto de ter nichos de leitores suficientes para os diferentes tipos de mangá. Nesse sentido, Panini, JBC e New Pop tiveram um papel fundamental, pelo lançamento e distribuição de títulos diversos.
É sabido que a indústria do anime vive um boom mundial e o sucesso alavanca muito as vendas de mangá. Fairy Tail, Shingeki no Kyojin, The Promised Neverland e Kimetsu no Yaiba – Demon Slayer são algumas daquelas séries contemporâneas que transcenderam o nicho, tornando-se verdadeiros padrões do gênero.
Mais recentemente, a Panini trouxe o primeiro volume de Jujutsu Kaisen (Planet Mangá), que vem com o subtítulo Batalha de Feiticeiros, uma das grandes apostas da editora, que segue essa linha, pois é uma das séries mais assistida nos streamings.
História
Yûji Itadori é um estudante do ensino médio que, ao invés de tirar proveito de suas habilidades físicas no atletismo, prefere passar o tempo com o pessoal do clube de ocultismo da escola. Não que esteja relacionado com a mística do sobrenatural, mas pertencer a esse clube priva-o de menos tempo para poder visitar o avô no hospital, único membro da família com quem mantém relação. De um dia para o outro, o sobrenatural invade a escola, resultado de uma ação desse clube que despertou uma maldição que atua como ponto de atração para uma infinidade de horrores.
Itadori, guiado por Megumi Fushiguro, um jovem estudante de magia, e pelas palavras de seu avô em seu leito de morte, para tentar sua sua força para ajudar os outros. Porém, a situação acaba se complicando e o jovem é forçado a engolir um dedos de Ryômen Sukuna, o maldito talismã originado do desastre. Itadori consegue reverter a situação, mas o preço a pagar é pelo seu próprio corpo e alma.
Pelo menos em parte, porque o jovem acaba sendo um recipiente humano que se resiste à influência maligna de Sukuna: uma divindade de duas faces e quatro braços que sobreviveu por milênios graças à sua decomposição e subsequente conversão em um talismã.
Conhecido como “O rei das maldições”, Sukuna causou tantos infortúnios ao mundo da feitiçaria que enfim poderá ser destruído; se juntarem os vinte dedos de Sukuna e Itadori os consumir, a execução do jovem marcará o ponto final do mito.
Análise
A peça de Gege Akutami começa quase como uma declaração de morte, o destino do protagonista já está marcado. Uma decisão de uma sociedade de feiticeiros que lhe dará os conhecimentos e as aptidões necessárias, bem como a oportunidade de escolher: morrer agora em vão ou fazê-lo no futuro para o bem comum.
Tendo em conta que o seu autor, Gege Akutami é praticamente um estreante, que esta é a sua primeira longa série e que só é precedida por uma obra resolvida num único volume, importa referir que a sua atuação no desenvolvimento da trama e os roteiros é notável, destacando-se pelo planejamento, pelo correto ritmo narrativo e por uma interessante apresentação e introdução progressiva dos personagens.
Akutami cresceu lendo obras como Dragon Ball, Yu Yu Hakusho ou Bleach. E como tal, seu estilo foi tomando forma, focando em artistas da estatura de Tite Kubo (Bleach) ou Yoshihiro Togashi (Hunter vs Hunter). Por isso, Jujutsu Kaisen é moderadamente nostálgico ao trazer sensações, mas seu ritmo e estilo direto mostram que está ciente do contexto em que foi concebido.
Com as características típicas da maioria das séries Shônen Jump, com o desenho de seus personagens é meticuloso, que consegue imprimir uma vibe doentia e perturbadora às maldições e cujas cenas de ação bem executadas, conseguindo transmitir uma sensação de desenvolvimento frenético, mas com pouco cuidado é muito pobre em cenário, o que se traduz num grande número de quadros sem fundos que empobrecem o aspecto gráfico da obra.
O mangá em si
A série é realmente honesta em sua abordagem, já que desde o primeiro capítulo mostra claramente suas cartas e dá o que promete: ocultismo e ação, uma combinação que funciona muito bem. Entre as suas qualidades tem um protagonista carismático, uma narrativa fluida e em constante evolução e a criação de um universo particular que pode dar muito de si.
Entre seus pontos fracos, deve-se notar que o trabalho de Akutami pelo menos neste primeiro volume, não tem muita profundidade de enredo, com um desenho pouco trabalhado e carece de personalidade própria, pois utiliza os elementos clássicos da fórmula para o sucesso deste tipo de trabalho. Em todo caso, a leitura deste primeiro volume deixa um gosto bom na boca, consegue despertar o interesse pela história e merece dar-lhe a oportunidade de ver como se desenvolve nos volumes seguintes.
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