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O dia que Alan Moore escreveu roteiros para Star Wars

Opa, como? Alan Moore escreveu roteiros para as HQs de Star Wars? Quando foi isso? Alguém lembra?

Bem, o bardo de Northampton, em sua vasta biografia, também roteirizou um bocado de estórias da Guerra nas Estrelas. Isso ocorreu no início de sua carreira, entre 1981 e 1982. Era um Moore de 28 anos, antes de atravessar o Atlântico e conquistar a fama, acabava de firmar um contrato para a filial da Marvel na Grã-Bretanha. A editora na época era dirigida por DerekDez’ Skinn, editor que logo fundaria a revista Warrior e traria as páginas de V de Vingança e Miracleman. Na Marvel britânica, o futuro autor de Watchmen escreveria as estórias do Capitão Britânia ou curtas narrativas para o Doctor Who.

Um título da filial era Star Wars Weekly que após a estreia de O Império Contra Ataca passou a ser Empire Strikes Back Weekly. Foi nessa revista que saía os quadrinhos que a Marvel norteamericana criava sob licença de George Lucas, e era complementada por narrativas curtas feita por autores britânicos. Entre eles um jovem que acabaria sendo um dos autores mais aclamados da nona arte, e que acabaria escrevendo cinco estória para o cânone de Guerra nas Estrelas.

Um autor que chega a um nível de relevância como Moore, sua obra completa e pormerizada já se converte em objeto de estudo. E aqui encontraremos alguns temas e recursos que Moore iria usar em vários outros trabalhos, mas de uma forma bem mais extensiva, como em Supremos. É claro que não iremos encontrar um Watchmen ou um From Hell ocultos, mas sim um bocado de curiosidades, que descreveremos a seguir.

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Não sei ao certo, se essas estórias estão na coleção da Planeta DeAgostini, mas traduzi os títulos. A primeira narrativa, A consciência de um Lorde Negro (Dark Lord’s Conscience), Darth Vader participa de uma espécie de jogo de xadrez alienígena em um sombrio planeta medieval. Enquanto enfrenta seu adversário, um extraterrestre de aspecto lovecraftiano, alguém atentará contra a vida do Sith usando um método visto também no primeiro número de Promethea. O desenho de John Stokes para esta história de seis páginas é bem adequado, com uma atmosfera obscura que destaca a prosa de Moore que já aqui começava a ser reconhecível com a que viria anos depois. Sem dúvida, o final coloca o outrora Anakin Skywalker em dívida com o seu novo eu, cada vez mais cruel.

Nas doze páginas de O ardil do cavaleiro negro (Rust Never Sleeps), Moore e Alan Davis nos contam como o transporte imperial que leva capturados Luke e Leia é interceptado num planeta desértico por insurgentes locais, que não fazem parte da Aliança Rebelde. Junto a eles, buscam um objeto místico que pode mudar a história de forma retroativa e evitar por exemplo o massacre de Alderaan. A forma que Davis desenha ícones como os irmãos Skywalker ou o seu pai, enquanto nem eles ou os autores fosse conscientes do parentesco é algo bastante interessante.

Seis páginas é o bastante para a dupla Moore/Stokes em O voo do Falcão contar como foi construída a mítica nave de Han Solo e por ele adquirida. Na narrativa transcorre uma nada sutil crítica social e moral, e que no fim pondera na máxima “só são negócios”.

Em Fúria cega (Blind Fury) Stokes e o Moore levam Luke Skywalker a ruínas milenares onde encontra um fragmento da história dos Jedi. A ideia da narrativa é bastante boa, porém ao ter que resolver tudo em cinco páginas, parece que o fim fica sem sentido, abrupto demais. De novo,o cenário se afasta das naves espaciais para os escuros castelos, parecendo mais um conto gótico do que sci-fi, fato que beneficia muito o resultado gráfico. Parece que Moore já tinha o cuidado do tipo de história daria aos desenhistas para conseguir deles o melhor de seu estilo.

En Óxido não descansa, voltamos a ver Moore e Davis tratando de personagens icônicos.  Neste caso os dróides R2-D2 y C-3PO, que devem conseguir que os habitantes robóticos de um planeta se unam a Aliança antes que o Império aproveite de seus recursos. Novamente uma ideia que Moore usará mais na frente, uma que se incorporará na continuidade DC, que já foi usada por Stan Lee e Jack Kirby e que na realidade tem raízes em Solaris, obra de Stanislaw Lem.

A maior narrativa é O efeito Pandora, ilustrada pelo espanhol Buylla. Quando Leia, Han e Chewbacca estão fugindo dos problemas habituais, se veem capturados por uns bruxos que se deleitam atormentando suas vítimas. Sem dúvida, apesar de ter quinze páginas, Moore não chega a excelência e termina fazendo mais um final rápido demais. De novo, vemos o esoterismo espacial predominando no relato sobre a saga.

No último que fez, Tilotny Throws a Shape, com Stokes, Leia é perseguida por Storm troopers imperiais para encontrar-se con uns seres alheios ao tempo e ao espaço, Voltamos a ver uma ideia parecida com futuro crossover entre os WildCATS e Spawn, na qual a metáfora está entre estes deuses e os próprios leitores, seres de uma dimensão mais elevada que entretem a história, mas que explicitamente interage conosco.

Notamos a evolução pessoal de Moore, e quando o mesmo falou que abraçou a magia ao completar quarenta anos, podemos notar que em Star Wars carregou, na maior parte das ocasiões, o esoterismo, o terror, as ruínas antigas, os deuses, a metalinguagem, a magia em si. E após uma leitura, podemos recordar que quase nada surge de forma totalmente espontânea. É certo que não estamos vendo o melhor do autor, e que algumas das estórias são bastante regulares em alguns aspectos. A Moore interessa pouco usar o mito que Lucas criou e sim usar seus personagens e criar seus próprios mitos no processo.

O que me parece interessante, em última análise, que muitos dos temas que o autor iria usar no futuro estão presentes nestas narrativas. Todas elas saíram na The Empire Strikes Back Monthly e recompiladas no tomo Classic Star Wars: Devilworlds. Não são histórias ruins, serve sobretudo para analizar a obra de Alan Moore em retrospectiva. Nada mal para um autor novato.

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