Uma breve retrospectiva dos Guardiões da Galáxia nas HQs

É notório que a grande maioria das tramas da Marvel se passa em nosso planeta – nas cidades e bairros dos próprios leitores. Muitos de seus heróis possuem um alcance deveras reduzido, com histórias que muito se assemelham a crônicas literárias, como é o caso do Homem Aranha, Demolidor, Punho de Ferro. Outros heróis, como Capitão América, os X-Men, Homem de Ferro, Hulk, possuem influência global e, muitas vezes, exploram a imensidão do espaço, em missões que envolvem raças alienígenas e enredos épicos. A parte cósmica da Marvel normalmente se mantém em segundo plano, e talvez seja o que mais diferencia a editora de sua concorrente; entretanto, sabe-se que para criar um universo coeso, rico e complexo, é inevitável explorar mais dessa veia de ficção científica que se relaciona de forma tão íntima com a nona arte, e que foi diretamente responsável por propiciar o alcance que as HQs possuem atualmente.

Os Guardiões da Galáxia, a despeito dos grupos mais famosos da editora, possuem naturalmente um alcance galáctico, fazendo parte desse lado cósmico da Marvel. Suas histórias são ambientadas em concepções coloridas e heterogêneas, fazendo uso de conceitos de sci-fi em enredos que apresentam problemas que devem ser resolvidos imediatamente, sempre fazendo uso de um tom de urgência. Essa característica funcionou para o longa-metragem que está atualmente nos cinemas, e funciona para as sagas dos quadrinhos.

1. A Primeira Formação

Assim como acontece com os Vingadores, a denominação “Guardiões da Galáxia” representa apenas um codinome que tem por finalidade caracterizar um grupo de heróis sem qualquer formação fixa, que possui o objetivo de, pasme, “guardar a galáxia” – algo muito próximo do que a Tropa dos Lanternas Verdes faz na DC.
 
A formação clássica dos Guardiões da Galáxia Antes do Senhor das Estrelas e seus amigos protagonizarem arcos de histórias nas páginas das revistas da Marvel, outra composição deste grupo foi responsável pela estreia dos Guardiões, em 1969, na finada Marvel Super-Heroes #18 – com roteiros de Arnold Drake e desenhado por Gene Colan. Esse mesmo time teve algumas outras aparições em títulos diversos até ganhar sua própria série no começo da década de 1990, durando 62 edições.
A primeira encarnação dos Guardiões da Galáxia se passou em um cenário onde a humanidade já havia perecido, após uma invasão alienígena, no longínquo ano 3000. Cada membro dos Guardiões vinha de um planeta diferente do sistema solar, já plenamente colonizado pelos humanos. O Major Vitória, empunhando o escudo do Capitão América, comandava a equipe formada por Starhawk, Martinex, Charlie-27 e Yondu.

2. Guardiões da Galáxia Vol. 2 (2008-2010)

Em 2008, uma reformulação dos Guardiões foi orquestrada por Dan Abnett e Andy Lanning, com o objetivo de trazer as histórias da equipe de heróis espaciais para o mesmo Universo Marvel dos principais personagens da editora. O time foi completamente reformulado, trazendo o Senhor das Estrelas como líder, além dos agora famosos Rocket Racoon, Groot, Drax e Gamora; juntos a Adam Warlock, Quasar e Mantis, personagens que não aparecem no longa recém lançado. Posteriormente nomeado de Volume 2, a série se estendeu até 2010, totalizando 23 edições.

A história se inicia logo após uma grande guerra espacial, que deixou como efeito colateral inúmeros buracos e fissuras no tecido do espaço-tempo. Frente a essa situação deveras alarmante, Peter Quill, o Senhor das Estrelas, decide recrutar membros para formar uma aliança a fim de vigiar a frágil situação da galáxia, eliminando as fissuras antes que tais defeitos se tornassem grandes o suficiente para destruir todo o Universo. Logo na segunda edição, o grupo de heróis encontra o Major Vitória congelado no que eles mesmos denominam “gelo de limbo” – um retrato literal de uma metáfora que expressa um “pedaço de rocha que passou através dos mais profundos e frios vácuos dimensionais imagináveis”. Ao longo da série, outros personagens da antiga composição do grupo fazem aparições eventuais e sem muito impacto para a trama principal.

 
A segunda formação dos Guardiõesplot da série aparenta soar um tanto quanto simplista e sem sentido para os leitores não iniciados e desconhecedores das sagas Aniquilação (2006) e Aniquilação 2: A Conquista (2007), que basicamente definiram o universo onde a trajetória dos Guardiões se perpetua. Essa necessidade de conhecer tudo o que define o status quo de um universo anterior a uma saga específica faz parte da essência dos quadrinhos americanos de super-heróis, e ao mesmo tempo representa uma barreira que repele a captação de novos leitores. Os reboots já estão incorporados a essa dinâmica justamente para tentar vencer esse problema, embora algumas vezes se exija um conhecimento prévio de sagas anteriores, como é o caso do Vol. 2 de Guardiões da Galáxia. Outras vezes, o reboot serve como uma reconstrução total do universo de um herói, como aconteceu com o Homem de Ferro no arco Extremis (2005-2006), já comentado por nós aqui, e usado como inspiração para o roteiro do terceiro longa do personagem. Atualmente, tendo em vista o sucesso estrondoso da Marvel nos cinemas, a tendência dos reboots é desatrelar as edições atuais de um título daquela intrincada continuidade pregressa.

Os roteiros da saga reservam boas doses dos mais variados conceitos de obras clássicas de ficção científica, como universos paralelos, viajantes temporais e planos malignos para destruir o Universo. Todos os personagens do grupo são bem desenvolvidos e possuem personalidade bem definida, servindo claramente de base para formar os mesmos heróis vistos no cinema. Peter Quill, ainda que utilizando de suas artimanhas peculiares, representa um ser de moral elevada e um líder dedicado, tendo em Rocket Racoon e Adam Warlock companhias cruciais para formular as estratégias necessárias para o alcance dos objetivos requeridos. Interessante observar a personalidade deveras arisca de Gamora, sendo ao mesmo tempo rebelde e fiel ao grupo; e Groot, bem… Sendo Groot. A arte é condizente com a atmosfera que o enredo demanda, muito embora nas edições finais, após a troca do artista, se torne um tanto cartunesca e um pouco destoante.

3. Guardiões da Galáxia Vol. 3 (2013-presente)

Em março de 2013, com o objetivo de já preparar o terreno para o filme que viria no ano seguinte, foi lançada uma nova saga dos Guardiões. Agora com uma formação mais enxuta, o grupo trazia Peter Quill, Rocket Racoon, Drax, Gamora e Groot, acompanhados de, pasme, o Homem de Ferro! O título já fazia parte da nova linha editorial da Marvel, chamada de Marvel NOW! (2012), uma resposta ao mega reboot da DC Comics, Os Novos 52. Nessa nova linha, a numeração de todas as revistas foi zerada e muitos heróis foram repensados.
Contrariando ao que vinha sendo feito com outros títulos nesse novo reboot do Universo Marvel, a primeira edição dos Guardiões introduziu os personagens de uma forma concisa, de modo a não cansar o leitor com aquelas extensas histórias de origem. A ação da trama principal não demorou a se revelar, trazendo uma dinâmica rara de ser vista em momentos como esse; o argumento é do consagrado Brian Michael Bendis, com a bela arte de Steve McNiven e cores de Justin Ponsor. Bendis é praticamente o maestro da Marvel, sendo a mente criativa por trás das grandes sagas causadoras de impactos permanentes em todo o universo da editora, entre as quais podemos citar: Guerras Secretas II (2004), Dinastia M (2005), Invasão Secreta (2008), O Cerco (2010) e A Era de Ultron (2013).
 
O pequeno Peter Quill na Edição #0.1 O Volume 3 conta com uma edição fora da cronologia, numerada de #0.1, que relata uma espécie de origem do personagem do Senhor das Estrelas. Tal edição mostra os acontecimentos que levaram os pais de Peter, uma terráquea e um alienígena, a se apaixonarem, revelando de onde vem alguns dos traços da personalidade do herói. A história de toda a saga dialoga muito bem com os demais acontecimentos do Universo Marvel, sendo influenciada diretamente pela saga principal da época – A Era de Ultron.
A arte de McNiven consegue representar muito bem a grandiosidade e a heterogeneidade dos mundos habitados pelas mais variadas espécies de aliens, trazendo um estilismo necessário para o processo de caracterização das mais diferentes culturas da galáxia. Embora o enredo, em um primeiro momento, apresente uma cadência por demais acelerada, trazendo muitas informações de uma só vez, eventualmente atinge-se um equilíbrio, o que faz a leitura ser mais prazerosa. A série ainda está em andamento, estando atualmente na edição de número 18.

Para quem ficou curioso e sedento por mais aventuras dos Guardiões da Galáxia após assistir o filme, os Volumes 2 e 3 trazem ótimas histórias e revelam a fonte de inspiração para o tom cômico visto nos cinemas, muito embora os personagens da HQ não sejam de todo engraçados. É evidente que se criou um estigma próprio para os cinemas, mas todos os elementos que propiciaram tal criação podem ser facilmente identificados nas páginas dos quadrinhos. Certamente será um deleite para o novo fã do grupo, especialmente se a leitura for acompanhada da trilha sonora oficial do filme: a viciante Awesome Mix Vol. 1 (apenas US$ 8,99 no iTunes), escutada exaustivamente por Peter Quill e, depois de assistir ao filme, por você também. Tenho certeza!

Total
0
Links
Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Ant
Resenha: "Roseanna", de Maj Sjöwall e Per Wahlöö

Resenha: "Roseanna", de Maj Sjöwall e Per Wahlöö

A dupla formada por Maj Sjöwall e Per Wahlöö foi o combo que evoluiu e muito o

Prox
Exame (n) ação
Exame (n) ação – Ambrosia

Exame (n) ação

A Lógica não é uma Ciência Exata

Sugestões para você: