A trajetória da WW em linhas limitadas: a expansão de Changeling

A editora americana de RPGs White Wolf anda realmente bem. Desde o final do antigo Mundo das Trevas a editora já vinha testando a idéia de produzir linhas limitadas de livros, ou seja, sem aquela proliferação de suplementos para tudo, apenas o livro básico e mais dois ou três para reforçar o cenário. Uma estratégia comercial que reduzia em muito a chance de prejuízo ou de cobrança por parte de seus consumidores, assim como incentivava os desenvolvedores a criar jogos mais fechados.

capa de OrpheusA primeira experiência realizada nesse sentido foi Orpheus, um jogo que se passava dentro do cenário do Mundo das Trevas antigo e com as mesmas regras do mesmo, porém poucos brasileiros chegaram a conhece-lo e menos ainda a joga-lo (infelizmente me incluo nisso). Certamente isso se deve a uma distância sadia e proposital que foi imposta no contexto do livro, que desencorajava crossover e coisas similares. Vale lembrar porém que Orpheus tinha seu principal plot vinculado ao fim de Wraith: the oblivion, e a quase completa destruição da antiga Shadowland, algo que fez com que muitos criassem uma expectativa de que o jogo fosse uma continuação. A grande verdade era outra, Orpheus representava uma nova abordagem para se jogar com fantasmas em um mundo espiritual pós-destruição dos reinos. Basicamente os personagens eram uma espécie de investigadores do que restou do mundo espiritual, empregados por uma empresa chamada Orpheus, que mandava seus agentes para casos de mansões assombradas e outras coisas bizarras. Haviam predominantemente dois tipos de personagens, os vivos (Skimmers: que conseguem sair de seus corpos a partir de concentração/meditação/drogas ou Sleepers: cujo os corpos são criogenizados em uma simulação de morte, capaz de libertar suas almas para fora de seus corpos) e o mortos (Spirits: fantasmas comuns que tem âncoras e trabalham para firma por algum motivo ou contrato e Hues: espíritos de mortais viciados em pigmento, um droga que os fazia capaz de enxergar os mortos), e estes seguiam um cenário muito bem estruturado e fechado ao longo de seis livros.

Com o surgimento do novo Mundo das Trevas, a White Wolf decidiu que a idéia de séries limitadas era tão boa que passaria a lançar todos os jogos menos populares ou experimentais sobre essa forma. Portanto, depois dos três clássicos (Vampiro, Mago e Lobisomem) as demais linhas seriam pensadas em termos de séries fechadas.

Capa de prometheanA primeira experiência foi com Promethean: the Created, sem dúvida nenhuma um dos melhores jogos de RPG publicados na ultima década. O jogo era denso, pesado tratava de temas que realmente poderiam tocar os jogadores. Eu mesmo me viciei no livro e comprei toda a linha (que possui quatro livros além do básico). Promethean passou a ser referido em vários fóruns de RPG como a grande idéia ou o jogo mais interessante em uma perspectiva interpretativa que a White Wolf já havia lançado, caindo completamente nas graças da crítica especializada, ainda que as vendas do mesmo tenham sido moderadas (lembro de ler no blog da WW que Promethean vendeu tanto quanto foi esperado). Para aqueles que desconhecem o jogo, há muito pretendo fazer uma resenha do mesmo, mas basicamente você interpreta um constructo clássico. Baseado em clássicos como Frankenstein, o Golem e até mesmo Ovídio (Galatea e seu Pigmalião), seu personagem é um ser imbuído de uma imitação de vida, e por esse motivo tudo na criação rejeita você. As pessoas te desprezam os lugares morrem e sua existência simulacro é completamente miserável. No entanto existe a possibilidade de se tornar humano, de transformar sua vil palha em ouro. O jogo é sobre essa jornada. Sobre descobrir o que faz de alguém humano e tentar se tornar isso. É quase um processo contrário aquele de Vampiro, onde vai se deixando aos poucos de ser humano.

Capa de ScionO sucesso da idéia foi o suficiente para que a White Wolf se arriscasse de novo, e dessa vez fora do Mundo das Trevas. Em abril de 2007 a mesma lançou Scion: Hero, o primeiro de uma trilogia de livros que basicamente trazem a volta dos velhos deuses a contemporaneidade. Usando regras melhoradas do velho Storyteller, os personagens de Scion são como o nome deixa claro, filhos de deuses, humanos com ascendência divina preparados para lutar junto de seus pais a eterna guerra celestial contra os titãs recém-despertos (no maior estilo hesiódico). Podemos encontrar semelhanças também com coisas como Sandman, Deuses Americanos, Promethea e outras HQs de temas similares. Os dois livros que se seguiram, expandiam o jogo a um nível épico, culminado em batalhas com os próprios titãs em reinos sobrenaturais já na forma de deuses. O fato é que Scion tomou de assalto a indústria ano passado, ganhando não só diversos prêmios da crítica especializada como também vendendo como água. Logo foram anunciados mais dois suplementos Scion: Companion (que trará entre diversas coisas mais outros dois panteões o céltico e o chinês) e Scion: Ragnarok (para se jogar na última batalha da terra talvez?), ambos previstos para os próximos meses.

Capa de ChangelingDepois de todo a exaltação que Scion trouxe a nova série limitada do WoD não ficaria para trás. Changeling: the Lost foi um sucesso absoluto, vendendo até mesmo mais do que as linhas básicas (como Lobisomem que tem andado em ritmo lento). Changeling reformulou completamente seu conceito e adicionou o elemento de horror pessoal ao mundo das fadas. O livro foi escrito de forma brilhante e é sem dúvida um dos destaques dos últimos anos em termos de RPG. Vale lembrar que o mesmo concorre a diversas categorias dos Ennie Awards desse ano, inclusive a de melhor jogo e sem dúvida o livro da WW é o favorito absoluto (o que vai colocar a empresa como campeã consecutiva já que o melhor jogo de 2007 foi Scion). O fato é que Changeling cresceu tanto, que já havia sido anunciado algumas vezes que existiam chances de estenderem a linha limitada. De fato isto já era uma verdade quando o mesmo ganhou o anúncio de um título da série Night Horrors (aparentemente antagonistas para o WoD básico, mas pouco se sabe ainda), mas vem sendo mencionado mais suplementos. O desenvolvedor da linha, Etham Skemp (que também é desenvolvedor de Mage: the Awakening) confirmou no fórum de Changeling que podemos esperar por anúncios de mais títulos em breve. A priori sabemos que um livro em PDF será produzido inteiramente sobre os mercados Goblins, aquele tipo de coisa que aparece em romances como Stardust. O fato é que essa notícia é muito boa e coloca mais chance para que os brasileiros vejam o novo Changeling por aqui.

Por fim, vale lembrar que a nova linha limitada da White Wolf vem aí, Hunter: the Vigil, e os previews são tão bons que parece que teremos um novo grande hit, assim como o possível Ennie de 2009. Espero receber meu exemplar dentro de poucas semanas.

Atualização: A capa de Night Horrors: Grim Fears (o sétimo livro de changeling) foi divulgada hoje, assim como o texto da contracapa do livro.

Capa de Grim FearsHorrores da Noite: Medos Sinistros (Por esse tipo de coisa que geralmente prefiro não traduzir, sempre soa esquisito).

Os Loucos (The wicked ones)

Do amante sedutor a velha canibal, da Rainha invejosa ao assassino bicho-papão. As criaturas advindas dos contos de fada são imortais, elas renascem a cada geração de histórias. Observe atentamente os seus filhos e mantenha o ferro frio a mão, por que esses medos infantis são reais de mais.

Um livro de crônica para Changeling: the Lost:

  • 26 antagonistas e bestas para injetar uma dose de medo férico em suas crônicas.
  • Uma variedade de perdidos manipuladores e artimanhos para aquecer qualquer jogo de Changeling.
  • Incluindo muitas criaturas féricas para serem usadas em qualquer crônica, de Vampire a Hunter.

O Livro será lançada dia oito de outubro desse ano!

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Comentários 10
  1. Artigo muito interessante. Realmente, Promethean é um dos melhores jogos do novo WoD, essa jornada para encontrar o que te faz humano, para se tornar humano é muito mais interessante que perder a humanidade.
    Li muito pouco de Changeling, mas já deu pra perceber que não tem nada a ver com o velho Changeling (que eu gosto muito). Depois desse artigo vou procurar Scion, que só tinha visto a capa, e aguardo ansiosamente o Hunter.

  2. Apesar de adorar Mago, eu concordo com o Arquimago quando ele diz que o jogo das Fadas e o dos Prometheanos instigam mais, essas linhas limitadas da WW são em geral as com os temas mais legais Ok, o fato de vampiros e lobisomens ter ficado um tanto batido ajuda, mas eles de fato costumam pegar temas muito interessantes e dos quais se pode explorar pontos ainda em aberto.
    ps. adorei o “Observe atentamente os seus filhos e mantenha o ferro frio a mão, por que esses medos infantis são reais de mais.”

  3. Clap clap clap para white wolf.
    Diferente de alguns sistemas mais jogados do mundo (que rola diversos tipos de dados e começa com D), ela se supera a cada ano!
    Ennie pra eles!

  4. Alguém aqui já jogou Scion de verdade?
    Já vi muita gente reclamando, especialmente do sistema de combate, por ser devagar demais. Alguém tem mais alguma opiniao quanto a isso?
    Tô meio que com medo de torrar as minhas economias nisso e dançar ;D

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