Bobo Plin lamuria-se a sordidez do conjunto em praças sem liberdade.
Como saltimbanco anda por lugares, vielas, cidades que no turbilhão de suas paixões, se degeneram por falta de coragem de ficar ou seguir adiante.
Às margem do córrego, do lixo e da merda são expulsos, perseguidos, presos e espancados. Bobo Plin questiona, seria dali que deveria nascer sua poesia?
Menelão ao ouvir Bobo Plin diz que a trilha do palhaço e o não-estar, e toda a condição é um convite à fantasia delirante e ao mistério da vida que pelos seus dons vai incomodar o homem-máquina que vive na sombra e se arrastam nas margens da história.
Aos olhos de Menelão, o palhaço murcho e triste parece querer aumento, próprio da ganância do gênero humano.
Na sua lógica, se não é dinheiro, é mulher ou que ele chama de amor, poder, sucesso.
Bobo Plin quer ter prazer no trabalho, ânimo noite após noite, espetáculo após espetáculo, repetir as mesmas pantomimas. Função após função, se repetindo…
E essa repetição embrutece, essa repetição transforma num bufão privado dos sentidos, num histrião mecânico, num débil palhaço.
Bobo Plin, não quer ser o palhaço sem alma.
Menelão acredita que palhaço faz palhaçada, espetáculo é espetáculo, nada de palhaço com alma.
Se algum palhaço teve alma, ele com certeza trocou essa alma com o Diabo pelo segredo de fazer o público rir, rir, rir até se mijar.
Os palhaços acabam enlouquecidos, como animais delirantes na ansia e tesão se ver o público rir, loucos que precisam do riso para acalmar seus sentidos.
Bobo Plin quer saber: e quando o palhaço não ri mais de si próprio?
Menelão diz que palhaço não tem que rir de nada, ele não paga entrada de espetáculo.
Bobo Plin acha que Menelão tem receitas de sucesso, sem nenhum escrúpulo, sem nenhuma sensibilidade e fala em palhaços geniais.
Palhaços na maldita comparação fica inimiga e inibe a criatividade.
Igualdade são segredos que se aprendem com o coração. A magia dos grandes artistas está dentro de cada um, antes mesmo de tomar conhecimento a magia se manifesta quando se resolve fazer a própria alma.
Para se fazer um bom palhaço deve se esquecer deles para sempre.
Quer esquecer tudo o que sabe e Menelão acha que ele como homem moderno está sofrendo pressão.
Como ator deve fazer o papel que lhe cabe fazer.
Por mais que o cotidiano endureça e o torne cínico por mais minúsculo que seja haverá uma sensibilidade às desgraças e alegrias cotidianas.
“Bendito seja quem souber se dirigir a esse homem que se deixou endurecer, de forma a atingi-lo no pequeno núcleo macio de sua sensibilidade e por aí despertá-lo, tirá-lo da apatia, essa grotesca forma de autodestruição, a que por desencanto ou medo se sujeita, e inquietá-lo para as lutas comuns de libertação. Os atores têm esse dom. Eles têm o talento de atingir as pessoas nos pontos onde não existe defesa. Os atores têm esse dom. Eles têm.”
Bobo Plin faz seu número de palhaço com alma e Menelão lucra com o espetáculo e diz que foi engraçado, Bobo Plim já diz que essa gente que estava aí hoje, não tem alma: “Nunca sentirão prazer. Nenhum alívio no riso, nenhum alívio nas lágrimas, nenhum alívio no sexo”
Ele ainda se acha um operário, um mecânico, um burocrata, sem criatividade um pobre palhaço sem alma.
Mas para Menelão, foi sucesso artístico porque entrou grana. Bobo Plin quer saber qual seu desejo e sua necessidade. Menelão aguça seu desejo, e consequentemente incrementa sua necessidade, num ciclo suicida.
Menelão convoca Bobo Plin para um trabalhinho extra, mas ele diz que não será garoto propaganda, não quer criar sonhos consumistas, castrar espiritual e fisicamente por uma imagem bonita dizendo compre enquanto do outro lado tem gente que não pode nada e ouve: Comprem!
Menelão acha que é um papel como outro qualquer.
Bobo Plim diz estar na trilha dos saltimbancos por apelo vocacional, escolheu esse ofício e quer cumpri-lo com sacerdócio: “Não quero perder a fé no picadeiro das espeluncas, diante da solidão das platéias vazias.”
Menelão diz que todos, sem exceção, não estão no picadeiro por méritos, estão por uma condenação. São medíocres. Enganadores.
Direção : Emilio de Mello
Elenco: Cláudia Mello e Silvio Guindane
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