Em 2024, Laerte Késsimos completa 20 anos de carreira como ator e faz nova temporada de seu monólogo Ser José Leonilson, em que costura a sua própria trajetória com a vida e a obra do artista plástico cearense José Leonilson, morto em 1993, vítima da Aids.
A nova temporada da peça circula pelos teatros TUSP Butantã (com sessões de 5 a 7 de julho), Paulo Eiró (de 12 a 14 de julho), Alfredo Mesquita (26 a 28 de julho), Arthur Azevedo ( de 2 a 4 de agosto) e Cacilda Becker (9 a 25 de agosto).
O trabalho é dirigido por Aura Cunha e conta com música original de Marcelo Pellegrini, cenário de Marisa Bentivegna e iluminação de Aline Santini.
Elaborado a partir dos depoimentos (biográficos e artísticos) do artista plástico brasileiro e registros sonoros feitos pelo próprio Laerte durante o processo de criação e pesquisa, o espetáculo traz à tona temas importantes da atualidade como identidade, a questão da masculinidade em nossa sociedade e a desestigmatização das pessoas que vivem com HIV.
Em cena, Laerte alinhava um tecido diante do público unindo as inquietações dos dois artistas: a feitura artística como um autorretrato, a casa de infância como um ambiente de domesticação, a sexualidade como campo de batalha, as pontes amorosas como uma travessia e a doença como uma reconciliação com nossa finitude.
Aproximando-se de forma direta da obra de Leonilson, o próprio processo de investigação de Laerte, os vestígios da criação, os áudios que dão dimensão histórica ao cotidiano criativo são, eles próprios, a obra. Um bordado em que frente e verso são compartilhados publicamente – suas amarras, cortes, sobras de linha, correções, imperfeições, pontos e nós.
O espetáculo é um monólogo que mistura artes visuais (projeções em vídeo), narração de histórias (a transposição para o palco de relatos biográficos gravados durante o processo) e documentário (a vida e obra de Leonilson) se misturam em um ateliê de costura que é também um palco.
Laerte Késsimos expõe não só a sua biografia (em relatos íntimos gravados e reencenados diante do público), mas também seus quadros, bordados e criações audiovisuais – operando, narrando e expondo suas criações ao vivo. Trata-se, portanto, de um evento biográfico e multimídia que tenta unir elementos do próprio teatro, das artes plásticas e do vídeo. Esse trânsito sem fronteiras entre o relato pessoal e a criação artística traz para o palco questionamentos urgentes: como uma obra de arte tão pessoal pode servir a uma discussão pública? Como a exposição sem pudores de uma intimidade pode ser um ato revolucionário em meio à falência social?
Assim como a obra de Leonilson não pode ser desassociada da vida do artista, por expressar sempre o caráter confessional de um diário íntimo, a encenação coloca, em primeiro plano, o duplo Laerte/Leonilson – uma ponte entre a vida e obra do artista morto em 1993 à vida e presente obra do sujeito artístico Laerte Késsimos, e as coincidências e dissonâncias entre as obras e vidas dos dois artistas.
Referencias íntimas e cotidianas sustentam o diálogo com o público – resultado do desejo íntimo de Laerte Késsimos em jogar o jogo favorito de Leonilson – a intersecção entre ficção e realidade; entre o íntimo e o público; entre o diário e a afirmação política; entre o bordado real e a descrição de uma paisagem; entre a biografia de Laerte e os bordados de Leonilson.
Organizada como um documentário poético em que a vida de Laerte (e a feitura desse espetáculo) se entrelaça aos diários, gravações e depoimentos de Leonilson, a montagem não está preocupada em levantar um edifício ficcional. Antes, contenta-se com o relato e a descrição de obras, criando um ambiente poético que não abandona a narrativa e o contato direto com o público. Os artifícios técnicos, como a projeção de imagens e a tessitura de palavras em tecidos, pretendem trabalhar para reunir o humano na direção de um objeto estético que não nos pede necessariamente o mesmo olhar, mas nem por isso deixa de nos reconhecer como coletivo.
Diante do público, constrói-se um panorama não só interior, mas também exterior, de nosso tempo e do mundo ao nosso redor. Nos tempos atuais, em que a opressão e o conservadorismo se erguem como uma onda alta que pode nos derrubar com força, trazer à tona um artista gay (vale ressaltar a tragédia que é esse ainda ser um tema controverso em nosso país); que viveu com HIV/AIDS (esse tema migrou de uma epidemia para um preconceito escondido e silencioso) e a favor de uma política subjetiva e íntima (quando a subjetividade e a intimidade são os primeiros alvos de políticas opressivas) é, em si, um ato político.
Sinopse
Idealizado e criado por Laerte Késsimos, o espetáculo teatral “Ser José Leonilson” é uma costura poética entre a vida e obra do artista plástico José Leonilson (1957-1993) morto pela pandemia de AIDS, e a biografia do ator Laerte Késsimos. Um bordado ou um diário em que frente e verso são compartilhados publicamente – suas amarras, cortes, sobras de linha, correções, imperfeições, pontos e nós.
Ficha Técnica
Idealização e atuação: Laerte Késsimos
Direção: Aura Cunha
Dramaturgia e pesquisa: Leonardo Moreira
Cenografia: Marisa Bentivegna
Desenho de Luz: Aline Santini
Trilha Sonora Original: Marcelo Pellegrini
Pesquisa, figurino e direção audiovisual: Laerte Késsimos
Direção de Produção: Gustavo Sanna
Produção Executiva: Yumi Ogino
Assessoria de Imprensa: Pombo Correio
Co-produção executiva: PrumoPro
Realização: Prêmio Zé Renato, PrumoPro e Secretaria Municipal de Cultura
“Este projeto foi contemplado pela 18a Edição do Prêmio Zé Renato – Secretaria Municipal de Cultura”.
Serviço:
Ser José Leonilson, com Laerte Késsimos
Classificação: 16 anos
Duração: 95 minutos
Teatro Tusp Butantã (Oeste)
Endereço: Rua do Anfiteatro, 109 – Cidade Universitária
Datas: 5, 6 e 7 de julho de 2024
Horários: sexta e sábados, às 20h, e domingo, às 19h
No domingo haverá tradução em libras e bate-papo com o público ao final do espetáculo.
Ingresso: Gratuito – Presencial
Teatro Paulo Eiró (Sul)
Endereço: Av. Adolfo Pinheiro, 765, Santo Amaro
Datas: 12, 13 e 14 de julho de 2024
Horários: sexta e sábado, às 21h, e domingo, às 19h
No domingo haverá tradução em libras e bate-papo com o público ao final do espetáculo.
Ingresso: Gratuito – Presencial
Teatro Alfredo Mesquita (Norte)
Endereço: Av. Santos Dumont, 1770, Santana
Datas: 26, 27 e 28 de julho de 2024
Horários: sexta e sábado, às 21h, e domingo, às 19h
No domingo haverá tradução em libras e bate-papo com o público ao final do espetáculo.
Ingresso: Gratuito – Presencial
Teatro Arthur Azevedo (Leste)
Endereço: Av. Paes de Barros, 955, Alto da Mooca
Datas: 2, 3, e 4 de agosto de 2024
Horários: sexta e sábado, às 21h, e domingo, às 19h
No domingo haverá tradução em libras e bate-papo com o público ao final do espetáculo.
Ingresso: Gratuito – Presencial
Teatro Cacilda Becker (Oeste)
Endereço: R. Tito, 295, Lapa
Datas: 9 a 25 de agosto de 2024*
*Sessões extras nos dias 14, 15 e 22 de agosto, às 21h
Horários: sexta e sábado, às 21h, e domingo, às 19h
Ingresso: Gratuito – Presencial
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