O ano era 1999. Uma mulher de 74 anos foi ao teatro assistir ao espetáculo Partido, adaptação do Grupo Galpão para o romance “O Visconde Partido ao Meio”, do escritor italiano Italo Calvino. Durante a apresentação, essa mulher tem uma epifania e decide escrever uma carta para o seu amante, um homem 30 anos mais jovem, terminando o relacionamento. A carta nunca foi enviada e ficou guardada por 20 anos, até que sua filha a encontrou em uma caixa junto com outras lembranças da mãe. Essa carta real inspirou as atrizes Denise Stutz e Inez Viana a criarem o espetáculo Partida, com direção de Debora Lamm.
Depois de uma temporada com exibição no portal do Sesc RJ em junho, Partida agora ganha uma versão para os palcos – em sua primeira temporada presencial, entre 3 e 26 de setembro (sexta a domingo, às 19h), no teatro do Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto. Seguindo os protocolos de segurança e com apenas 30 lugares disponíveis, o teatro será palco para que Inez Viana e Denise Stutz assistam juntas com o público à peça on-line – numa espécie de comunhão teatral que coloca as artistas e os espectadores em diálogo ao longo da sessão.
“O espetáculo agora é um desdobramento daquela primeira obra. Vamos nos relacionar com a plateia e assistir ao vivo à sua reação durante a exibição. Em cena, manipulamos luz, som e o vídeo”, explica Inez. “Estamos voltando por paixão ao teatro, sem patrocínio e carregando o nosso isolamento para a cena”, conta Denise. “Mas agora com o desejo de compartilhar a experiência que a gente viveu, de sentir de perto as sensações do público”.
Com idealização de Denise Stutz, Partida tem dramaturgia de Inez Viana. Juntas em cena, Denise e Inez – amigas e parceiras de muitos projetos teatrais – vivem artistas que vão criar uma peça, inspiradas pela tal carta nunca enviada. Elas estão na plateia de um teatro conversando sobre a montagem que almejam realizar. Na carta, a mulher escreve sobre seu relacionamento, angústias e desejos, entrelaçando a sua vida com os temas da obra de Italo Calvino, em uma mistura de realidade e dramaturgia, entre a sua vida com o amante e a vida do personagem do Visconde.
“Apesar de ser uma carta de amor, também fala de morte e incompletude. É muito poética”, diz Inez, que construiu a dramaturgia a partir da carta, de referências culturais do final dos anos 90 e da história do Visconde dividido ao meio por uma bala de canhão, criado por Calvino. A obra é uma alegoria sobre as dualidades do humano, com suas pulsões de vida e de morte. Sentimentos que foram despertados na mulher e provocaram o rompimento com o amado. “A peça levanta uma série de questões sobre essa mulher. Por que ela nunca enviou a carta? Em qual momento do espetáculo do Galpão ela decide terminar o seu relacionamento?”, conta Denise.
Filmada no Espaço Cultural Sérgio Porto em maio, a montagem carrega uma metalinguagem acentuada. A opção por filmar a peça numa plateia de teatro com a câmera parada, sem cortes, faz alusão às inúmeras lives que surgiram no último ano por conta da pandemia da COVID-19. “O jogo entre elas, de escrever essa peça ao vivo, é mais arriscado, assim como o próprio teatro. Uma interseção entre o teatro e as lives, que é um forte retrato da nossa época”, diz a diretora Debora Lamm.
Ficha Técnica
Idealização: Denise Stutz
Texto: Inez Viana
Direção: Debora Lamm
Assistente de Direção: Junior Dantas
Elenco: Denise Stutz e Inez Viana
Iluminação: Ana Luzia Molinari de Simoni
Efeito Sonoro: Gui Stutz
Técnico de Montagem e desmontagem: Juca Baracho e Kelson Santos
Fotografia e Redes Sociais: Rodrigo Menezes
Programação Visual: André Senna
Técnico de luz: Thiago Carvalho
Técnico de som: Denilson Silva
Produção Espaço Cultural Sérgio Porto: Aline Mendes e Luiza Rangel
Audiovisual e Direção de Produção: Bem Medeiros
Assessoria de imprensa: Paula Catunda e Catharina Rocha
Produção: Eu + Ela Produções Artísticas e Suma Filmes
SERVIÇO
Espetáculo: Partida
Temporada: de 03 a 26 de setembro de 2021
Local: Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto Rua Humaitá, 163 – Humaitá)
Dias e horário: de sexta a domingo, às 19h.
Duração: 50 min. Classificação etária. Livre. Lotação: 30 lugares.
Informações: (21) 2535-3846 e 98587-0494
Ingressos: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia).
Venda de ingressos: via site Sympla ou uma hora antes do espetáculo.
Denise Stutz
Em 1975, junto com outros dez bailarinos, fundou o Grupo Corpo. Trabalhou com Lia Rodrigues como bailarina, professora e assistente de direção. Foi professora da Escola Angel Vianna durante seis anos. Em 2003, começa a desenvolver seu trabalho solo, se apresentando nas principais capitais do Brasil, França, Espanha, Portugal, África e Austrália. Seus três trabalhos solos foram apontados pelo jornal “O Globo” como um dos dez melhores espetáculos no Rio nos anos de 2004 (DeCor), 2013 (Finita), 2015 (Entre Ver). Seu último trabalho chamado “Só” foi considerado destaque também pela crítica do jornal “O Globo” na programação do Festival Panorama da Dança (2018). Trabalhou com o diretor Luiz Fernando Carvalho como coreógrafa nas minisséries: “Hoje é Dia de Maria”, “Capitu” e “Clarice Só para Mulheres” e fez parte da equipe para a preparação dos atores da novela “Velho Chico” (TV Globo). Foi duas vezes selecionada pelo projeto Rumos Itaú Cultural com os trabalhos “Justo uma imagem” e “EntreVer”.
Inez Viana
A carioca Inez Viana é atriz, diretora teatral e dramaturga, com pós-graduação em Direção Artística, pelo Instituto CAL RJ. Desde 2009, dirigiu 16 peças, e recebeu diversos prêmios e indicações de melhor direção como Prêmio Shell, APTR, Questão de Crítica, APCA, Prêmio Contigo e FITA. Dirigiu inúmeros shows, com artistas como Paulinho da Viola, Hamilton de Holanda, Soraya Ravenle, Marcos Sacramento, Vidal Farias, Pedro Miranda, Tuca Andrada, Beatriz Rabello, entre outros. Em 2009, fundou a Cia OmondÉ, tendo oito peças montadas com sua direção: “Auto de João da Cruz”, de Ariano Suassuna (2020); “A Mentira”, de Nelson Rodrigues (2018); “Mata Teu Pai”, de Grace Passô (2017); “Os Inadequados”, criação coletiva Cia OmondÉ (2015); “Infância, Tiros e Plumas”, de Jô Bilac (2014); “Nem Mesmo Todo o Oceano”, de Alcione Araújo (2013); “Os Mamutes”, de Jô Bilac (2012); “As Conchambranças de Quaderna”, de Ariano Suassuna (2009).
Debora Lamm
Atriz e Diretora teatral, cofundadora da Cia OmondÉ de teatro. Com 23 anos de carreira, já participou como atriz de mais de 20 espetáculos teatrais, mais de dez filmes, sete séries de TV e cinco novelas. Entre os seus trabalhos mais recentes, estão as peças “A Ponte”, de Daniel MacIvor, direção de Adriano Guimarães (2018), “Mata Teu Pai”, “Fatal”, “El Pânico”, “Infância, Tiros e Plumas”, “Cock Briga de Galo”, “Maravilhoso”, a série “O Zorra”, da TV Globo e os filmes “Chocante”, “Como é Cruel Viver Assim” e “Um Homem Só”. Como diretora, dirigiu sete espetáculos, entre eles “O Abacaxi” (2017), “Suelen Nara Ian” (2019), Ltda (2018), “O Palhaço da Guerra” (2014), “Pedro Malazarte e a Arara Gigante” (2014). Como atriz foi indicada ao prêmio APTR e ao Questão de Crítica com o espetáculo “Os Mamutes”, de Jô Bilac e direção de Inez Viana, que também lhe rendeu o prêmio FITA de Teatro na categoria melhor atriz.
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