A excelência e a desolação no fim de "The Americans"

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Talvez mesmo depois de seis temporadas muita gente nem tenha ficado sabendo da existência da ótima The Americans. O que é uma pena. Uma das grandes produções da TV americana, sempre impecável e quase sempre perfeita, a trama se passa na urgência da guerra fria, em meados dos anos 1980, onde um casal de espiões russos – Philip e Elizabeth Jennings – vivem como americanos comuns, num subúrbio de Washington.
Com um casal de filhos, nascidos em solo americano, e vivendo como nativos legítimos, o casal foi recrutado ainda na infância na Rússia, depois exportados clandestinamente para a América, em missões secretas e criminosas, sempre a serviço e ideologia da URSS. Para complicar, ainda tem como vizinho um agente do FBI, cuja missão era justamente caçar espiões. A história foi crescendo ao longo desses seis anos e se desenvolvendo para além da tentação de cair num jogo de gato e rato (o que não fez).
O roteiro sempre foi mais preciso no desenvolvimento do casal – Matthew Rhys e Keri Russell, ambos brilhantes e cuja química foi tamanha que acabaram por se casar na realidade –  e no que suas missões e disfarces atribuíam ao que acreditavam. Isso explica porque mesmo basicamente contando a mesma história por seis anos, a dramaturgia manteve-se rígida na evolução de seus protagonistas erráticos. Mas quem teve a sorte de acompanhar seus excelentes episódios ao longo dos anos – a aritmética de violência e sexo gráficos e frios, com uma direção elegante e diálogos dimensionados por silêncios – chegou no último episódio com o coração na mão.

É até difícil destacar o melhor momento. Mas a grande revelação de que eram espiões numa garagem, aconteceu de maneira sutil e absolutamente tensa. Todo calcado na palavra, e nunca uma frase foi tão pesada (para ambos os lados): “você era meu amigo“.
O apego do personagem de Rhys à cultura americana, sintetizado numa ida ao Mc Donalds, o triste final da filha Paige (Holly Taylor) e toda a cena do trem, a escolha da canção “With or Without You” do U2 tornando tudo ainda mais desolador… Que final, senhores. Que final! Isso sem contar, os russos falando russo, e não inglês… Obviamente que é um tantinho questionável a escolha da descoberta se dar quase de forma banal e faltando poucos capítulos para terminar. Assim como a descontinuidade de algumas tramas como a de Martha (Alison Wright) ou até mesmo a ambiguidade de Reneé (Laurie Holden), afinal, era ou não uma espiã?
Mas o importante é o todo que sempre será maior que as (poucas) pontas soltas. The Americans entra no panteão da Era de Ouro da TV Americana, bem ali ao lado de Sopranos, Breaking Bad, Mad Men, entre outras. Talvez muitos nem saibam disso. Sorte dos que souberam e acompanharam. Já tá fazendo tanta falta…

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