“Girls” é brilhante ao tirar o glamour do pedestal dando sentido a uma geração de verdade

Definitivamente a HBO é o lugar dos sonhos de todo roteirista. Tanto pela abertura, quase sem concessões, a propostas artísticas variadas, quanto ao investimento constante nessa “filosofia”. Tanto que o canal fechado americano virou uma espécie de grife de projetos dramatúrgicos ambiciosos, amorais e relevantes – vide obras como Milred Place, Game of  Thrones e The Sopranos.

Não foi à toa que o produtor Judd Apatow (nome quente na chamada nova comédia Hollywoodiana e diretor de “Ligeiramente Grávidos”), descobriu e apostou nas possibilidades de uma série sobre uma menina (e suas amigas) em meio às desventuras de seus 20 e poucos anos, numa nada glamourizada New York contemporânea.

Hannah tem 20 e poucos anos e ainda vive da mesada dos pais, no Brooklyn, em Nova York. Quando a família decide cortar a grana, ela argumenta que precisa do dinheiro para virar a grande escritora que acredita ser. “Posso ser a voz da minha geração”, diz, chapada de ópio, para os pais. “Ou, pelo menos, uma voz, de uma geração”, conclui, desmaiando em seguida. A cena está no primeiro episódio de “Girls”, cuja protagonista Hannah é vivida por Lena Dunham, nova-iorquina de 26 anos que criou a série, é sua produtora executiva, diretora e roteirista. Na série, Hannah tem um estágio não-remunerado e sonha se tornar escritora. Sua colega de apartamento, Marnie (Allison Williams), trabalha numa galeria de arte. O grupo de amigas se completa com a viajada e um tanto hippie Jessa (Jemima Kirke) e a inocente virgem Shoshanna (Zosia Mamet). Assuntos como aborto, sexo casual e assédio no trabalho são tratados com total naturalidade.

Se você lembrou de Sex And The City não foi em vão. A hoje clássica série da HBO é uma referência em Girls, citada inclusive no primeiro episódio, entretanto, está ali mais para ser rechaçada do que para ser refletida. Lena se vale da ideia de que a série protagonizada por Carie e cia deram uma esperança de vida novaiorquina que não se realizou a muitas meninas de sua geração e parte dessa espécie de frustração (sob a cidade) para criar um universo underground e cômico sobre as relações e a sobrevivência num mundo sem grana, grifes e pares românticos vestidos de Armani.

A primeira temporada primou por essas características, com textos afinados, trilha deliciosa e um elenco condizente com a estranheza que a jovialidade às vezes nos confere. Uma pena serem apenas 10 episódios (por que não 13?), mas a segunda temporada já está garantida. E Hannah terá mais espaço para, além de tirar do pedestal velhos padrões televisivos idealizados, firmar-se como uma alternativa ianque e sacana da Bridget Jones de 10 anos atrás. Ou seja, até quando quer ser iconoclasta, a HBO é implacável.

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