Djavan tem tanta propriedade sobre sua própria obra que pode fazer um disco basicamente marcado por variações melódicas de si mesmo, mas não necessariamente se repetir.
Vidas Pra Contar é um álbum que confirma o talento impressionante do cantor em tirar melodias sofisticadas de letras simplistas. E sua necessidade em trafegar pelos diversos gêneros ainda mantém-se muito bem marcada: há do xote “Vida Nordestina” até a valsa singela “O Tal do Amor” , passando pela sinuosidade jazzística de “Se Não Vira Jazz”, uma apropriação do gênero cada vez mais djavaneada. Sem nenhuma culpa pelo diálogo frequente com o grande público, apresenta “Encontrar-te”, típica canção romântica de novela, mas sem se ressentir dessa alcunha. Por outro lado faz de seu “Enguiçado” uma bem urdida mistura de gêneros.
A música que tem puxado o disco nas rádios é a simpática “Não é um bolero”, mas não tem como ficar indiferente a deliciosa “Só Pra Ser o Sol”, onde (re) encontramos aquele Djavanque brinca com a capacidade de criar melodias certeiras entre a objetividade do pop e a composição passional de uma balada. É o ponto alto de um CD que a todo momento aponta a perenidade poética e artística do cantor.
Djavan é fiel ao seu universo. Por isso não dá para ter meio termo ao entrar nele. Ou se gosta ou não. Algo como uma estética. Por isso que a a cada novo trabalho a sensação de valor afetivo se confunde com o frescor propositivo de sua obra.
Afinal, não tem como não ficar indiferente a uma letra como de “Aridez”, onde a bela voz de Djavan atesta: “não faz mal, você é água da fonte que irriga um coração feito pra bater pra sempre por você, amor…“. Tão simples, tão denso, tão Djavan…