Ao ver o trailer do controverso documentário brasileiro lançado em 2024, podemos pensar mais sobre o grito, quer dizer, o efeito de um grito e sua liberação de energia.

O alívio dos pulmões ao se inflar de ar renovado, o gritar é uma descarga física, e deve ser também incluída na normalidade e no aparente; com o intuito de desafogar e adicionar vitalidade através desse extravasar, os benefícios são sentidos no aparelho psíquico. O grito é uma explosão ao mesmo tempo psíquica e física, grande liberação de energia onde seus efeitos abrangem também a ancestralidade, algo de cunho primal assinalando sua força. Ao que vemos em Instinto Humano (Winston, 2003), “então, de onde vem essa reação física e psicológica? Não é como se tivéssemos sido ensinados quando crianças a começar a respirar mais rápido em situações ameaçadoras, nem podemos conscientemente fazer nosso coração bater muito mais rápido ou entender o vigor do nosso corpo para produzir adrenalina. O que estamos realmente vivenciando é nossa própria ligação pessoal com nossos ancestrais humanos mais antigos, uma reação que centenas de milhares de anos atrás quase certamente fez a diferença entre a vida e a morte, mas que agora, na maioria dos casos, serve simplesmente para nos lembrar do fato notável de que, embora vivendo em um mundo moderno muito avançado, todos nós o fazemos com cérebros e corpos da Idade da Pedra.”
Mas o corpo está vivo, ele pulsa de energia! É difícil controlar.

Tendo em vista tudo isso, se o indivíduo grita ele exprime algo desse primal, se alivia em si mesmo e dissipa energias excedentes. Nesse sentido, seus benefícios são evidentes, e assistimos a um alívio e clareza de percepções acerca de nós mesmos, em qual momento você está enquanto indivíduo, em quê participa, e a extensa emoção, conectividade acionada pela percepção do ambiente. Falamos dessa conectividade; podemos até mesmo citar Winnicott (1981) no livro “O processos de maturação na criança”, onde ele reflete sobre o termo “eu estou”. Seguidamente vêm as palavras “eu estou”, começa o autor, o que representa uma etapa do desenvolvimento individual da criança. Mediante essas palavras, o indivíduo não se limita a possuir uma forma, vai mais além do que isso, possui uma vida. No início do “eu estou”, o indivíduo, por assim dizer, está em estado bruto. Sem defesas, vulnerável, potencialmente paranoico. O indivíduo é capaz de chegar a fase do eu estou somente porque existe um ambiente que o protege, o que Winnicott quer dizer é que este meio, o ambiente que o protege de fato é a mãe, preocupada por seu filho e sua identificação com o mundo. A mãe se orienta pela satisfação das necessidades do ego do filho, ao menos as mães satisfatoriamente boas!