Sim, disse o aluno ao mestre que também era artista plástico. Estilo tem sempre alguma relação com a escola à qual o artista está inserido. Mas aluno, a escola não irá ensinar o escritor a ter compaixão pelo seus temas e personagens. Não se trata de estilo, o olhar compassivo ou não do autor pela história que narra. Isto é sabedoria, pura e simples, e não se aprende na escola. É algo intuitivo que se absorve olhando e observando o mundo; as pessoas em seu círculo. Pois a vida da gente não passa de um círculo de afetos.
A escola tem conteúdo programático. Ensina a disciplina. “Mas será?” indaga o aluno ao artista que ensina à bisbilhotar pessoas, principalmente nas suas esquisitices. O artista sorri. Não diz ele, esquisitices são escorraçadas das escolas. Mas para onde vão as esquisitices? As idiossincrasias sem crases?
Vão para os livros e seus mestres: são os narradores.
No livro de contos “Pulso” da escritora Karina Lemes, pela editora Patuá, uma coleção de enredos que mais do que contar o quê, está o olhar cativante da autora em cima de seus personagens. A literatura talvez seja a única arte da aproximação por afeto. Daquilo que já reconhecemos como nosso repertório tanto no nível textual como semântico: um delineamento de personagem, uma certa voz narrativa.
Karina em seus contos já confabulou muito com os seus fantasmas. Ela tem a habilidade da costura ao pegar referências aqui e acolá e urdir histórias embaladas no afeto e na compaixão. ‘Prostituta sem salto’, uma exímia parábola sobre os desvãos da solidão, e como arte do encontro requer apenas um pouco de cumplicidade. O humor da narradora tempera a história com aquela forma não convencional de procurar o outro, sem estereótipos, sem recalques, fazendo histórias que valem uma piscadela cúmplice. Crônicas saborosas e muito bem azeitadas sobre as esquisitices da vida urbana de uma cidade grande.
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