Na escola nos ensinam que a Revolução Francesa foi um sucesso retumbante… pelo menos até o conhecido Período do Terror, quando milhares morreram nas guilhotinas. Não nos dizem que houve resistência contrarrevolucionária. E esta existiu sobretudo na região da Vendeia, que o próprio Victor Hugo resumiu como “uma ferida que é uma glória”. O filme “Vencer ou Morrer” chega então para contar essa história, mas, como os contrarrevolucionários, está fadado ao fracasso desde o começo.
Os camponeses que não se conformam em jurar fidelidade à nova Constituição organizam um exército, o Exército Católico e Real, e clamam que o marinheiro François-Athanase de Charette (Hugo Becker) seja o comandante deles. Charette havia lutado na Guerra de Independência dos Estados Unidos, que foi um antecedente e inspiração para o movimento revolucionário francês.

O derramamento de sangue é tremendo, em muitas cenas de batalha. A luta contrarrevolucionária se arrasta por diversos anos, se tornando ainda mais forte durante o Período do Terror. Enquanto Charette deseja a guarda do herdeiro do trono, Luís XVII, o menino e os horrores tomam conta de seus devaneios, em cenas desnecessárias sob um fundo preto.
Os historiadores e os carolas concordam com uma coisa: os católicos já foram perseguidos. Como faço parte da primeira categoria, posso explicar: em sua gênese, o catolicismo foi perseguido pelo Império Romano, sendo praticado apenas nas catacumbas, às escondidas – isso é mostrado no filme “Quo Vadis?”, de 1952. Na França também foram perseguidos num episódio conhecido como Massacre da Noite de São Bartolomeu em 1572 – esta é uma das histórias contadas em “Intolerância”, de 1916. O que acontece em “Vencer ou Morrer” não é exatamente uma perseguição aos católicos, mas sem dúvida a fé moveu muitos dos contrarrevolucionários, haja vista o discurso anticlerical da Revolução Francesa.
Quando se discute a anistia dos revoltosos – não com este termo, mas significando a mesma coisa -, um político chama a atenção para a diferença entre os termos “oficialmente” e “oficiosamente”. Estes dois advérbios de modo se diferem quanto a de quem partiu a ordem: o que é oficial partiu de autoridades, enquanto o que é oficioso não, porém emana de fontes oficiais – falta a este último da chancela de autoridade.

“Vencer ou Morrer”, talvez sem querer, atiça o debate sobre quando defender uma causa é honroso e qual o limite para isso se tornar fanatismo. Ademais, o discurso de “vencer ou morrer” só é bonito na teoria e na ficção. Na prática e na vida real, em geral o instinto de sobrevivência fala mais alto.
A origem do filme é controversa: um de seus produtores é o parque de diversões Puy du Fou, localizado na região da Vendeia. O gerente do parque é filho do político De Villiers, que apoia a extrema-direita. Assim, fica clara a escolha pelo tema de sacrifício dos cristãos não por seu Deus, mas por seu rei, que eles consideravam que era enviado divino. Como filme, “Vencer ou Morrer” é mediano, e como toda propaganda é lixo ideológico.
NOTA 4 de 10
A crítica evidencia não apenas a incompreensão moderna acerca da epopeia da Vendeia, mas também a constante tentativa do mundo secularizado de ridicularizar o heroísmo cristão e demonizar toda forma de resistência católica à tirania revolucionária.
A senhora Letícia Magalhães tenta reduzir o sacrifício dos mártires da Vendeia a um fanatismo irracional, movido por um suposto delírio monarquista. Ora, não se pode entender a alma dos católicos vendeanos sem compreender que, para eles, Deus vinha antes da Revolução, antes da Pátria e antes da própria vida. “Dieu le Roi” – Deus e o Rei – não era uma fórmula vazia, mas a expressão de uma ordem natural e sobrenatural em que a autoridade legítima deriva de Deus, como ensina São Paulo: “Non est potestas nisi a Deo” (Rm 13,1).
A Revolução Francesa foi, antes de tudo, uma revolta contra Deus, uma tentativa de apagar a Cristandade e instaurar uma nova religião laica baseada na razão corrompida, no igualitarismo artificial e no culto do homem. Foi nesse contexto que se ergueu a Cruz da Vendeia, como baluarte da verdadeira fé contra a apostasia institucionalizada. O Exército Católico e Real não foi um bando de fanáticos; foi um povo que defendeu suas igrejas, seus padres, sua Missa, seu Deus.
A crítica chega ao absurdo de afirmar que o filme é apenas “propaganda” por ter sido apoiado por conservadores e produzido com apoio de um parque temático. O que deveria chocar é que, em pleno século XXI, ainda há quem tenha vergonha de exaltar o heroísmo de um povo que preferiu morrer a trair Cristo. A senhora Magalhães vê lixo ideológico onde, na verdade, há um tributo tardio – e ainda tímido – à verdadeira história, aquela que os livros escolares ocultam com zelo revolucionário.
Que a Vendeia seja lembrada não como um fracasso, mas como o mais nobre fracasso que um povo pode viver: morrer lutando por Deus, pelo Rei e pela Civilização Cristã. Se o mundo moderno ri disso, é porque perdeu o senso do sagrado. Nós, católicos tradicionais, não apenas honramos a memória dos mártires da Vendeia – nós a reivindicamos. O seu sangue não foi derramado em vão, mas se une ao sangue dos mártires de todos os tempos, aqueles que, com os olhos fixos no Céu, preferiram a cruz ao compromisso com a mentira revolucionária.
Vencer ou morrer? Para o católico fiel, a verdadeira vitória é morrer em estado de graça, combatendo sob o estandarte da Cruz.
“A Vendeia não foi apenas uma revolta: foi um milagre de fidelidade.”– Mons. Marcel Lefebvre