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Crítica: “Chappie” humaniza robô, mas robotiza sua dramaturgia

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Em 2001, a alardeada reunião de Steven Spielberg e Stanley Kubrick em Inteligência Artificial nos mostrou que o casamento entre o suntuoso entretenimento e a pretensa filosofia pode ser nocivo ao resultado final de um filme.

Chappie, terceiro longa metragem do (eterno) promissor diretor sul africano Neill Blomkamp, me remeteu muito a isso. A grande maioria do contingente policial de Johannesburgo, na África do Sul, foi substituída por eficientes robôs, criados por uma corporação de tecnologia para combater a criminalidade desenfreada.O engenheiro responsável pela programação dos andróides, Deon Wilson (Dev Patel), deseja aprimorar sua criação, desenvolvendo um programa capaz de dotar as máquinas de consciência própria — apesar da oposição da presidente da empresa (Sigourney Weaver, pelo segundo filme consecutivo, desperdiçada) e de um ambicioso colega engenheiro (Hugh Jackman, numa atuação prejudicada pelo equívocado personagem), que pretende emplacar seu projeto concorrente de robôs.

Deon encontra a chance de testar seu software de inteligência artificial, mas o protótipo acaba caindo nas mãos de uma gangue de assaltantes. Como uma criança, o robô apelidado de Chappie precisa aprender tudo, da linguagem aos valores morais e descobre do pior jeito possível que os humanos são capazes de fazer mais crueldade do que bondade.

Eis um diretor muito interessante, hoje podemos ver, para o bem e para o mal. Hábil em humanizar suas histórias que contrapõem sempre a sociedade com a tecnologia, quase sempre institucionalizada, por outro lado, vem demonstrando um desacerto em suas próprias pretensões. Depois do irregular Elisyum, Chappie reforça essa fragilidade: Blomkamp, também autor da trama, parece ter ser apaixonado pelo discurso contido na ideia, não estabelecendo assim, as bases para tal. O robô protagonista é um encanto. Mas o roteiro envolta dele é dissonante da riqueza que seu personagem suscita. O próprio desfecho da história (com uma vilania de Hugh Jackman totalmente atrapalhada na narrativa) é bem o paradigma de seus defeitos: emocional, mas descaradamente superficial. Por mais que não devêssemos esperar Distrito 9 de tudo o que o diretor crie, ter a sua antítese a cada novo lançamento reitera uma certa decepção. Mas Neill Blomkamp ainda assim é um talento. Só precisa sair do limbo entre esse Spielberg e Kubrick de 2001.

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