Hiroshima é terceiro e aguardado longa metragem do cineasta uruguaio Pablo Stoll, seu primeiro desde o festejado Whisky, premiado na mostra Un Certain Regard no Festival de Cannes. Se seu filme anterior era cheio de silêncio e espaços mortos, aqui o diretor resolveu elevar essa equação e realizou um longa sonoro, mas onde os diálogos todos são mudos, transcritos em cartelas, como fosse um filme mudo. Um musical silencioso, como diz o cartaz de divulgação.
Quebrando a barreira entre o documentário e a ficção de maneira engenhosa, Pablo resolveu fazer um filme seguindo um dia na vida de seu irmão, Juan Andrés Stoll, vocalista da banda Genuflexos. No longa estão seus familiares, companheiros de banda e amigos de verdade, mas num enredo ficcionalizado. Logo em seus primeiros minutos, num demorado plano sequência que segue o protagonista caminhando de seu trabalho até a sua casa, ouvindo música alta em seu CD player, o filme deixa clara a sua proposta e dá ao espectador a opção de continuar ou não naquela sala de cinema. É um filme de festival, para cinéfilos interessados em linguagem cinematográfica.
Apesar dos pouquíssimos diálogos e de um roteiro praticamente sem conflitos, Jaun Andrés é um personagem muito bem construído. Ele aceita tudo o que os outros falam, pedem ou marcam com ele, mas sempre encontra uma maneira de escapar de qualquer tipo de compromisso, com quem quer que seja, caminhando ou andando de bicicleta, sempre com o CD player tocando algum post-rock ou post-punk bem alto. Juan encontra amigos, namorada, amante, joga futebol e tem que estar no show de sua banda à noite, mas ele esta sempre desconfortável em todas essas situações, o que o faz deixar a tudo e a todos sem grandes explicações. As únicas coisas que ele parece fazer por vontade própria são ouvir música e fumar, além de fugir.
Apesar de ser um filme sensorial, explorando muito bem a banda sonora, Hiroshima é um filme radical apenas em sua linguagem, não chega a ser provocador ou inovador esteticamente. A fotografia parece com a de qualquer outro filme independente latino americano de baixo orçamento, mas o que mantém a atenção do espectador são alguns momentos narrativos brilhantes que nos pegam de surpresa, como uma luta entre Juan Andrés e o motorista de uma velha pick-up, ou o show da banda que encerra o longa. Estes momentos são espaçados entre muitos vazios, cobertos apenas com a excelente trilha sonora e algumas boas sacadas visuais, algo que o deixa arrastado, mesmo para os seus entusiastas.
O filme, com tão pouca história e recursos, consegue discutir problemas de solidão, conexão e memória afetiva. É com certeza uma das surpresas deste Festival do Rio e uma pequena aula sobre a importância do diálogo, não só no cinema, mas na vida das pessoas. Para os que quiserem uma referência mais elucidativa, comparo-o a uma das vinhetas do excelente filme sueco Vocês, Os vivos (de Roy Andersson), de forma estendida.
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- TER (28/9) 13:20 Estação Ipanema 2 [IP221]
- TER (28/9) 17:40 Estação Ipanema 2 [IP223]
- QUI (30/9) 16:00 Estação Botafogo 1 [EB143]
- QUI (30/9) 22:00 Estação Botafogo 1 [EB146]
- 21:00 Cine Santa [ST014]
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