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Festival do Rio: "Cantinflas" é a cinebiografia do Rei da Comédia Mexicana

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Se Roberto Bolaños, criador e intérprete do Chaves e do Chapolin, é uma espécie de Renato Aragão do México, Fortino Mario Alfonso Moreno Reyes poderia ser o Oscarito. Adotando o nome artístico Cantinflas, Mario tornou-se a maior referência de humor naquele país até hoje, principalmente depois de sua participação no filme “A Volta Ao Mundo Em 80 Dias”.
“Cantinflas” (idem, México/2014) abrange vinte anos da trajetória do comediante desde o início da carreira em Veracruz, como um humilde aspirante a ator, mostrando por sua atuação decisiva à frente do sindicato dos atores no México, sua relação, por vezes difícil, com a companheira de toda a vida Valentina Inanova e, por fim, a chegada à glória do Cinema Americano. A trama é contada paralelamente em dois espaços temporais: na Los Angeles em 1955, quando o produtor Michael Todd (vivido por Michael Imperiolli) procurava completar o elenco de ‘Volta Ao Mundo’, e no México nos anos 30, onde se desenrola a trajetória do personagem título (Oscar Jaenada).
Chama a atenção o esmero da produção na reconstituição de época principalmente no que tange à Direção de Arte. No trabalho de Fotografia, houve o emprego de paletas de cor que remetem aos filmes hollywoodianos da década de 50, nas partes que se passam em 55, e aos filmes mexicanos dos anos 30 e 40, nas que mostram a carreira de Cantinflas em seu país, com direito a preto e branco para ilustrar as filmagens de seus sucessos.

O ator espanhol Oscar Jaenada (“Piratas do Caribe: Navegando Em Águas Misteriosas”, “Os Perdedores” e “Che 2: A Guerrilha”) realiza um excelente trabalho de composição não só na incrível caracterização, mas também nos trejeitos e gestual. Interpretar personagens biográficos é uma tarefa ingrata, e muitas vezes não é bem-sucedida, principalmente por causa da perigosa armadilha do exagero que acarreta a caricatura. Outros famosos que surgem na tela como Elizabeth Taylor e Marlon Brando também impressionam pela semelhança com os verdadeiros.
Já o roteiro escrito por Edui Tijerina, apesar de correto, se vê refém da surrada estrutura narrativa de cinebiografias, mostrando o biografado dos dias inglórios até o triunfo, sempre carregando nas tintas para um maior efeito dramático. Dentro dessa receita de bolo, não sobra muita alternativa para a direção de Sebastian del Amo (que co-assina o roteiro) além de seguir o mesmo esquema tático do script. Em sua segunda película, o cineasta realiza um trabalho correto, amparado por um aparato técnico de ponta, mas bastante engessado.

“Cantinflas” foi o longa escolhido para representar o México na disputa por uma vaga entre os indicados ao Oscar de 2015 na categoria de Melhor Filme Estrangeiro. Não à toa o filme traz uma linguagem estética que se coaduna com o Cinema Americano, tem sequências faladas em inglês, e o ponto de partida e de chegada do filme é a superprodução “A Volta Ao Mundo Em 80 Dias”, tudo isso claramente mirando para o tiro certo no mercado estadunidense. Porém, o aparente triunfo pode se tornar um calcanhar de Aquiles, pois a Academia adora premiar filmes estrangeiros que contemplam a cultura genuína do país, e, embora Cantinflas seja um ícone cultural mexicano, sua saga foi pintada aqui com matizes hollywoodianos.
Em última análise, “Cantinflas” não chega a ser memorável, mas é satisfatório enquanto entretenimento e é uma boa oportunidade para o público brasileiro conhecer história do Rei da Comédia Mexicana.

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