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“Pets – A Vida Secreta dos Bichos” diverte apesar da pouca criatividade

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Quando “Toy Story” foi lançado, em 1995, o cinema de animação comercial nunca mais foi o mesmo. Além das inovações tecnológicas que o filme apresentou, a primeira das aventuras de Woody, Buzz Lightyear e seus amigos foi bem sucedida ao criar uma história cujos personagens apresentavam uma “humanidade” até então impensável para brinquedos, criando uma identidade não só entre as crianças, mas também entre os adultos. A partir daí, outros projetos procuraram seguir o caminho traçado pela Disney/Pixar, tentando cativar o público ávido por mais histórias deste estilo.

Mas, certamente, nenhuma delas bebeu tanto da fonte de “Toy Story” quanto “Pets – A Vida Secreta dos Bichos” (“The Secret Life of Pets”, 2016). O novo filme da Universal Pictures e da Illumination Entertainment, parceria que criou sucessos como “Meu Malvado Favorito” 1 2, além de “Minions”, é engraçadinho e certamente vai cair nas graças do grande público. Porém, a falta de criatividade para contar sua história chega a ser incômoda e impede que a produção se torne relevante diante de outras animações.

Na trama, o espectador acompanha as atividades que os animais de estimação realizam quando seus donos os deixam sozinhos para trabalhar, estudar, viajar, entre outros compromissos, num edifício de apartamentos de Manhattan, onde moram. Neste universo, vive Max (dublado por Louis CK na versão original e Danton Mello na versão em português), um cãozinho da raça Terrier que vive uma boa relação com sua dona, Katie, e acredita que ficará com ela para sempre. Mas, para a sua surpresa, Katie decide trazer para sua casa um outro cachorro, o órfão Duke (Eric Stonestreet/Tiago Abravanel), que se revela um pouco “espaçoso” demais.

Irritado com a sua presença, Max acaba brigando com o novo hóspede e os dois acabam indo parar nas ruas de Nova York. Longe do aconchego do lar, a dupla terá que rever suas diferenças após conhecerem o coelhinho Bola de Neve (Kevin Hart/Luis Miranda), que deseja montar um exército de animais abandonados para atacar os humanos. Paralelo a isso, a poodle Gigi (Jenny Slate/Tatá Werneck), organiza um grupo com os outros animais do prédio para descobrir o paradeiro de Max e se mete em algumas confusões.

“Pets – A Vida Secreta dos Bichos” é uma animação que conta com ótimos aspectos técnicos. A movimentação dos personagens é bastante fluida e sua caracterização os torna bastante carismáticos, especialmente a dupla de protagonistas e o vilão Bola de Neve, tão neurótico quanto fofinho, numa combinação que, por mais inusitada que pareça, funciona e é responsável por alguns dos bons momentos do filme.

Além disso, a paleta de cores usada é bem vívida, que deixam as imagens agradáveis aos olhos. Outro bom elemento do filme é a sofisticação da computação gráfica, que torna alguns elementos tão realistas que parecem não ser animação, como os córregos de água que aparecem numa cena ambientada num esgoto, ou os prédios e construções que são mostrados no decorrer da trama.

Vale destacar também a trilha sonora de Alexandre Desplat, que conta com melodias agradáveis que têm uma levada de jazz, junto com boas canções pop de grupos como Bee Gees, Queen e System of a Down, além de intérpretes como Taylor Swift e Pharrell Williams (que volta com sua consagrada “Happy”, de “Meu Malvado Favorito 2”) e até uma música de “Grease: Nos Tempos da Brilhantina” (“We go together”) aparece numa divertida cena com Max e Duke.

O problema é que, mesmo com essas qualidades, “Pets – A Vida Secreta dos Bichos” fica aquém do esperado por causa de uma história que já foi feita antes em “Toy Story” e melhor. Aqui, parece que Cinco Paul, Ken Daurio e Brian Lynch escreveram o roteiro apenas copiando situações e substituindo os brinquedos da Disney/Pixar por animais de estimação, o que pode fazer o espectador mais atento adivinhar o que vai acontecer a seguir, o que comprova a falta de criatividade.

Os roteiristas, junto aos diretores Chris Renaut (dos dois “Meu Malvado Favorito”) e Yarrow Cheney, poderiam ter se esforçado mais para serem mais inventivos. Outra coisa que chama a atenção, negativamente, é que, assim como “Minions”, a maioria das melhores piadas apareciam nos trailers e acabam com a sensação de novidade. Parece que os realizadores não se preocupam em “queimar seus cartuchos” antes da hora, o que é uma pena.

A dublagem brasileira funciona bem, misturando dubladores veteranos, como Élcio Romar e Mário Monjardim, com atores conhecidos do grande público. Danton Mello, que já dublou bastante desde muito jovem, está seguro em mostrar a vivacidade e a insegurança de Max. Tiago Abravanel dá o tom certo para tornar Duke divertido, mas ele fez um trabalho melhor em “Detona Ralph”.

Os “novatos”, no entanto, que conseguem ganhar maior destaque. Luis Miranda emprega sua já conhecida energia para tornar Bola de Neve bem engraçado com seu jeito irritadiço e convencido de que é um grande gênio do crime, com uma levada de malandro de rua. Tatá Werneck consegue encontrar uma voz diferente do que o espectador está acostumado a ouvir dela e funciona para mostrar que Gigi foi criada para ser uma dondoca, mas que passa por algumas mudanças no desenrolar da trama.

Feito para agradar especialmente a quem tem e curte muito animais de estimação, “Pets – A Vida Secreta dos Bichos” não consegue atingir todo o potencial que poderia. Mas, ainda assim, não deve deixar boa parte do público de mau humor ao fim da sessão, embora as crianças provavelmente gostarão mais do filme do que os adultos. No final das contas, o filme vai funcionar para quem quer apenas ter pouco menos de duas horas de mero entretenimento e nada mais. Só que não dá para negar que o pessoal da Illumination Entertainment ficou devendo desta vez.

Filme: Pets – A Vida Secreta dos Bichos (The Secret Life of Pets)
Direção: Chris Renaut e Yarrow Cheney
Elenco: Danton Mello, Tiago Abravanel, Tatá Werneck, Luis Miranda (Vozes)
Gênero: Infantil
País: EUA
Ano de produção: 2016
Distribuidora: Universal Pictures
Duração: 1h 27 min
Classificação: Livre

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