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“Rio” de várias histórias

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Chimamanda Adichie é uma contadora de histórias. Nigeriana de classe média, ela cresceu em um campus universitário no leste de seu país e começou a ler livros muito cedo. No entanto, os livros estrangeiros que Chimamanda lia quando criança eram cheios de personagens que não se assemelhavam de forma alguma a ela. Assim, quando ela começou a escrever suas próprias histórias, também estas continham personagens que se aproximavam mais daqueles descritos pelos livros estrangeiros. Eles tinham pele branca e olhos azuis, brincavam na neve e comiam maçãs. Bem, este não é bem o estereótipo da Nigéria. Esta era sua única história dos livros, de que seus personagens deviam ter este perfil.

Agora, você, leitor, deve estar se perguntando porque comecei contando essa história, se este é um artigo sobre “Rio”, não é mesmo? Afinal, até onde todos sabem “Rio” conta a história de uma arara-azul, o Blu, que foi contrabandeado para Minesota quando nasceu, e acabou se tornando a ave doméstica de Linda, que o criou por 15 anos. Então, um cientista brasileiro chamado Túlio a procura para pedir que leve Blu até o Brasil para encontrar-se com a última fêmea de sua espécie, Jade, e evitar sua extinção.

Ao chegar ao Rio de Janeiro em época de carnaval, as araras Blu e Jade vivem aventuras divertidíssimas para fugir de uma gangue que trafica aves exóticas. E é aqui, no Brasil, no Rio mais especificamente, e neste momento do filme que fazemos alusão à contadora de histórias nigeriana.

Falemos, então, caro leitor, de estereótipos. Quando Chimamanda Adichie descobriu a literatura africana, ela percebeu que pessoas com a pele cor de chocolate e cabelos crespos, que comiam mangas ao invés de brincar na neve podiam existir na literatura. E tal qual esta nigeriana, Carlos Saldanha (diretor) mexe com nossos estereótipos na animação “Rio”. Negros, favelas, contrabando, carnaval, samba: tudo que nos torna um país conhecido mundo afora apresenta-se no filme de uma maneira diferente, mais delicada.

O filme mostra que, sim, é possível nos entretermos com personagens com os quais podemos nos identificar, que sejam mais parecidos conosco, com lugares mais semelhantes ao tropicalismo de nossas terras e, principalmente, com nossos próprios “problemas” sociais, como as favelas. Sem que seja preciso, necessariamente, construir uma imagem pejorativa do que é nosso. Apesar de não desconstruir estereótipos, Saldanha consegue mostrar que, por mais que estes estereótipos sejam verdadeiros, também são incompletos.

As histórias não devem ser contadas de uma só maneira, por um só prisma. “Rio”, assim como fizeram os livros africanos à contadora de histórias, nos salva de termos uma única história sobre animações, sobre as grandes produções cinematográficas. Nós podemos existir por diferentes prismas nessa enorme indústria da Sétima Arte!

“Rio” causa suspiros de orgulho de sermos brasileiros. Piegas ou não, o filme desperta sentimentos assim. Produto do amor de um brasileiro ao Rio de Janeiro, a sensação com a qual o filme nos deixa ao fim da sessão não podia ser diferente.

Sobre Chimamanda Adichie:

“Mostre um povo como uma coisa, como somente uma coisa, repetidamente, e será o que eles se tornarão”. Veja o vídeo sobre “Single Stories”:

Parte 1:

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=O6mbjTEsD58[/youtube]

Parte 2:

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=SZuJ5O0p1Nc&feature=related[/youtube]

 

 

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