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Xico – O Cachorro Mágico: animação traz tradição mexicana, mas não emplaca sua história

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Depois de dez anos dirigindo séries animados do Chaves (El Chavo) e do El Chapulín Colorado, o diretor mexicano Eric Cabello faz sua estreia no longa com Xico – O Cachorro Mágico (El camino de Xico), uma história de aventura sobre o cuidado com a natureza, cheia de simbolismo e magia, que estreou na Netflix em fevereiro .

Uma história muito infantil

Anos atrás, a Pixar descobriu a fórmula do sucesso no cinema de animação: atraia adultos com seu produto e levavam os mais pequenos para a sala. A ideia é aparentemente simples, com subtramas adultas dentro de uma história principal acessível a todas as idades.

Seria injusto comparar a animação de Eric Cabello com o que a Pixar já fez. A produtora Anima Estudios não é a Pixar, mas é o estúdio de animação mais importante do México e da América Latina, conhecida por trazer boas animações, como a do Chaves e do Manda Chuva. Traz em Xico – O Cachorro Mágico, voltado exclusivamente para as crianças, mas que não consegue trazer o encanto e a animação se torna mais um filme sócio-político, causando um certo torpor para os adultos que assistem.

Uma história simples de mocinhos e bandidos, narrativa plana, com personagens bem lineares, em que dois meninos, Gus e Copi e seu cachorro devem salvar uma montanha de um empresário ambicioso e seu exército de escavadores.

Tradição mexicana e mensagem ambiental

A história aproxima as crianças do conceito de “fracking”, polêmica técnica de extração de gás de xisto que consiste em injetar água sob alta pressão junto com aditivos químicos e areia para quebrar a rocha e liberar o gás.

A força das classes populares, com a ajuda de um pouco de magia, consegue proteger a natureza dos planos do prefeito e de empresários implacáveis. E o elemento mágico é talvez o mais interessante de Xico – O Cachorro Mágico. Uma magia banhada pelo folclore, lenda e tradição mexicana. A começar pelo Xico, um cão da raça Xoloitzcuintle que, para a cultura asteca, acompanhava as almas a caminho de Mictlán ou do mundo subterrâneo.

O uso de localismos é, no entanto, uma faca de dois gumes. Ao mesmo tempo que confere ao filme uma riqueza cultural indígena e dá credibilidade ao enredo, pode ser uma barreira para quem não conhece certas expressões.

Em relação ao conflito, já vimos algo parecido em Pocahontas (1995) de Mike Gabriel e Eric Goldberg e em Avatar (2009) de James Cameron, as matizes dos três seguem a crítica à exploração do meio ambiente, a ganância por riquezas econômicas, e a relevância da tradição. Entretanto, perde-se o foco com a mistura da premissas demais e com o clichê da aventura perigosa que alguns garotos se envolvem para dar uma moral no final.

Arte

A parte artística e técnica da animação apresentam um resultado melhor. Um excelente nível de qualidade a par de outras produções internacionais. A proposta visual é fantástica e às vezes alguns lugares se tornam tão surreais como se Salvador Dalí tivesse pintado.

Um elenco a altura


Xico – O Cachorro Mágico é um filme financiado inteiramente no México. O elenco de atuação está repleto de figuras do cinema e da televisão do país. O jovem Luis Ángel Jaramillo (voz de Miguel em Viva – A Vida É uma Festa para a versão em espanhol), Marco Antonio Solís (a voz de Ernesto de la Cruz quando canta, também em Viva – A Vida É uma Festa), Pablo Gama, Lila Downs (que participa da trilha sonora), Enrique Guzmán, Alex Lora (que empresta a voz a uma divertida gambá, além de interpretar uma das canções do filme), entre outros; em relação às falas dos personagens, há uma semelhança com às da séries animadas do Chaves e do Chapolin, mas não fica ruim, só soa estranho quando somos apresentados às criaturas mágicas.

Conclusão


Xico – O Cachorro Mágico (El Camino de Xico) é uma história de amor pela natureza, adornada com elementos da cultura mexicana que sem dúvida irão divertir as crianças. Sua narrativa excessivamente simples e com personagens planos tornarão difícil para o filme se conectar com o público mais velho. Um bom design da animação e apresentação de elementos da cultura mexicana dão um valor maior à animação. Deixo a música tema para apreciação.

Nota: Regular – 2.5 de 5 estrelas

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Por
Cadorno Teles -

Cearense de Amontada, um apaixonado pelo conhecimento, licenciado em Ciências Biológicas e em Física, Historiador de formação, idealizador da Biblioteca Canto do Piririguá. Membro do NALAP e do Conselho Editorial da Kawo Kabiyesile, mestre de RPG em vários sistemas, ler e assiste de tudo.

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