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Bitscópio: Secret of Mana – O clássico esquecido

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A tela abre e você se vê em companhia de outros dois. Estão sobre uma ponte em forma de um tronco gigantesco de árvore, de fronte à uma grande queda d’água. Vocês conversam sobre aparições misteriosas de fantasmas que rondam o local e um tesouro que ali jaz. Surpreendentemente por um descuido, seu personagem se desequilibra e cai, mergulhando no desague daquela imensa cachoeira. Ao vagar por quilômetros, você acha uma espada fincada à uma pedra. Eis o objeto que lhe permitirá rumar de volta à seu vilarejo em segurança. Ao brandir a espada, o quão surpreso você não fica ao ver uma alma penada à tua frente? As histórias não eram só histórias, então. Assim começa este fantástico action-RPG desenvolvido e publicado pela Square e lançado em 1993 para o SNES e posteriormente re-lançado em 2008 – já pelas mãos da Square Enix – para o Virtual Console do Wii.

História, personagens e características marcantes

“Usando o poder de Mana uma civilização cresceu forte. Em tempo, Mana foi usada para se criar a arma definitiva: A fortaleza de Mana. Tal feito enraiveceu os Deuses, que enviaram suas bestas para destruir a fortaleza. Uma grande guerra se espalhou pelo mundo e Mana aparentemente desapareceu. Então um herói, brandindo a Espada de Mana, esmagou a fortaleza. Ainda que a civilização tivesse sido destruída, o mundo gozava de paz novamente. Mas o tempo corre como um rio… e a história se repete…”

Este é o texto introdutório que lhe insere no contexto da história de Secret of Mana. Inicialmente não sabemos bem o que isso tudo quer dizer, mas logo aos primeiros minutos de jogo, quando avistamos a espada, sabemos com certa obviedade que aquela é a própria Espada de Mana, e que seu personagem é o novo herói da “história que se repete”. O enredo do jogo é desencadeado por este ato inocente de puxar a espada da pedra, seu personagem é encorajado à faze-lo por uma espécie de voz “desencarnada”. Com a arma em mãos, uma série de criaturas começam a aparecer nos arredores de sua aldeia, chamada Potos. O ato de puxar a espada da pedra e suas consequências é interpretado como um mau presságio pelos moradores, que decidem te banir do local; a arma protegia de alguma forma a aldeia de invasores. Durante uma discussão com um dos moradores, um forte terremoto faz com que um buraco se abra no chão, levando você e seu acusador à uma espécie de caverna subterrânea, covil de um gafanhato gigante, o primeiro chefe do jogo. Após derrotá-lo você escala de volta à Potos e fala com um cavaleiro que lhe instrui à procurar uma espécie de templo que deveria “recarregar” sua espada. A arma mágica funciona com o conceito de energia vital (Mana), era esta mesma energia que protegeu durante tanto tempo a aldeia dos monstros e que um dia foi responsável por esmagar a Fortaleza de Mana. Ao descobrir que a espada está descarregada, você parte rumo à este templo.

Posteriormente você descobre que existe um grupo que está reconstruindo a Fortaleza, e que tal fortificação utiliza a energia do planeta (Mana) para propósitos individuais, sejam eles bons ou ruins, daí a beleza do plot, a meu ver. Tal ação desencadeará paulatinamente a destruição do planeta, e cabe a você, junto de sua espada, salvar o mundo. Para recarregar sua arma você tem de coletar orbes de energia matando monstros gigantes (a primeira você coleta ao derrotar o gafanhoto em Potos) e levá-las até um ferreiro anão, que incrustará-las em sua arma. Ao longo do caminho você é salvo por uma jovem, que posteriormente clama por sua ajuda (na verdade, te chantageia à ajudá-la), e juntos vocês partem em uma party.

A história não chega a ser completamente original, muito pelo contrário; em sua trama percebemos inúmeros elementos de lendas já conhecidas pelo consciente coletivo – Rei Arthur como destaque óbvio -, além dos estereótipos de heróis inseridos em um plot épico sempre amplamente utilizados tanto em jogos eletrônicos, como em enredos de livros de fantasia e aventura. A máxima responsabilidade que cai sobre um ser humano comum – que representa a ligação do jogador com o personagem e a trama em si; nos faz querer viver aventuras junto à ele, e nos move rumo ao objetivo extremamente claro e linear que o jogo propõe. Mas nem por isso Secret of Mana é um título chavão, nem tampouco instantaneamente cansativo. É mais uma obra prima da Square para o mundo dos games.

Randi é o herói do jogo. Foi ele quem retirou a espada da pedra e que agora precisa reenergizá-la para salvar o mundo dos domínios da nova Fortaleza de Mana.

Purimu é sua companhia feminina, e também a white mage de sua party. Ela te encontra durante uma confusão envolvendo goblins, e depois de te ajudar a fugir, revela que o amor de sua vida – o guerreiro Dyluck -, após seguir ordens estritas do rei para atacar o castelo de Elinee, fora capturado e encontra-se desaparecido. Sendo assim ela decide lhe acompanhar, e aproveita para lhe chantagear à ajudá-la, expondo que isto seria obrigação sua já que ela já havia o ajudado antes.

Popoi é o terceiro personagem, e capaz de conjurar magias ofensivas. Vivia em uma vila de anões, mas não lembra de nada do seu passado. Por este motivo decide se juntar ao grupo para tentar recuperar suas memórias.

As características de cada personagem são extremamente lineares e bem definidas. Randi não suporta o uso de magia, sendo assim suas habilidade de combate corpo à corpo são bem apuradas. Purimu é simplesmente um personagem de suporte e Popoi o mago do grupo. Uma escalação bem simples, porém efetiva.

Gráficos, jogabilidade e efeitos de som

Em quesito jogabilidade, o jogo se distancia dos RPGs clássicos da Square e seu estagnado e conservador sistema de batalhas por turno, propondo embates em tempo real, semelhante ao que foi competentemente empregado dois anos antes em The Legend of Zelda: A Link to the Past (1991). Utilizando a visão isométrica para retratar o ambiente em gráficos extremamente bem elaborados, abusando de cores vivas, o que acaba por distanciar o jogo de um cerne mais realista. Abriga características surreais típicos da era 16 bits, ilustrando aspectos contraditórios quando expõe uma temática mais “adulta” junto à um design infantil.

Os três personagens podem ser facilmente permutados durante a batalha, em caso de apenas um jogador. Nas duas versões lançadas, há a possibilidade de se jogar com até três pessoas, cada uma controlando um dos três personagens já citados. Quando se pretende trocar de equipamentos, lançar feitiços ou verificar seu status, um anel de opções aparece no centro da tela, tornando este procedimento muito mais fluido e funcional. Sem dúvida uma peculiaridade bem recebida pelos fãs do gênero.

Existe a possibilidade de se utilizar oito tipos de armas diferentes em todo o jogo (espada, lança, arco, bumerangue, chicote, etc), com exceção da espada, todas elas podem ser atualizadas oito vezes cada. Para fazê-lo o jogador precisará recolher as orbes – derrotando os chefes – e levar a arma junto à orbe, à um ferreiro para que a mesma seja reforjada. Quanto mais tempo se utiliza determinada arma, mais experiente o personagem se torna, e mais dano se tira com ela, consequentemente. A magia funciona basicamente no mesmo escopo, e para utilizá-la em sua plenitude o jogador deverá resgatar os espíritos conhecidos como Elementais, que também são oito.

Incontável é o número de vezes que seu grupo deverá peregrinar no mundo de Secret of Mana. Tais jornadas poderão ser feitas mais rapidamente com a utilização dos chamados Canhões, que literalmente atiram seus personagens em direção ao local pretendido; e são obrigatórios em viagens inter-continetais. Posteriormente o jogador tem acesso à Flammie, uma espécie de dragão, e tem a chance de viajar livremente pelo mundo. Tais viagens – tanto por intermédio do canhão, quando pelas asas da Flammie – são ilustrados com a utilização da engine gráfica mais famosa do SNES, e já comentada aqui na coluna, o Mode 7.

A fantástica trilha sonora é de autoria de Hiroki Kikuta, que concebe sons críveis para o ambiente fantástico proposto. Abusa no uso de instrumentos de percussão e sopro, em criações que se assemelham à melodias das canções tribais de outrora. Um magnífico trabalho, apesar das limitações técnicas da época. Abaixo você confere uma prévia com a seleção das 10 melhores músicas (segundo o autor do vídeo) da trilha sonora original do jogo:

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=a8VIWqlylFU&feature=related[/youtube]

Considerações Finais

Embora seja um título, no mundo dos RPGs eletrônicos, levemente desconhecido e esquecido pelo público, Secret of Mana é uma obra-prima que se põe no mesmo nível de gigantes como Legend of Zelda. Fora um jogo extremamente inovador, consistente e harmoniosamente belo – que soube mesclar bons gráficos junto à uma trilha sonora inspiradora e roteiro intrigante -, além de ser nada cansativo, se comparado à outros títulos mais famosos do gênero, como os inúmeros Final Fantasy da própria Square. Citado inúmeras vezes em revistas especializadas como um dos melhores jogos de todos os tempos (42ª posição no Top 200 da Nintendo Power), é um jogo obrigatório para o fã do estilo. Atualmente o game pode ser adquirido no Virtual Console do Wii, e futuramente – como anunciado na E3 deste ano – sairá reformulado como um porte para iPhone. Uma palavra para você que se diz gamer: Obrigatório. 😀

Já conhecia o jogo? Então relembre agora a batalha final!

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=KDP1I58vCtQ[/youtube]

Voltamos semana que vem!

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