A dupla formada por Maj Sjöwall e Per Wahlöö foi o combo que evoluiu e muito o gênero Policial/Thriller Nórdico. Na década de 60, as referencias que os escritores tinham eram seguir os clássicos detetives britânicos, moderados e arquetípicos, cujas histórias a resolução do mistério e a identidade do assassino representavam o principal alicerce. Sjöwall e Wahlöö propuseram ir mais além, sem perder a construção do mistério, da intriga como motor da narrativa, aproveitando o gênero como exercício de veemente crítica social.
Os anos 1960 foram uma década de prosperidade na região, especialmente a Suécia, que se tornou referência deste então como estado de bem-estar. Inquestionável em alguns aspectos, mas que havia uma trama, tanto do governo, como da sociedade, de barrar convenientemente qualquer caso para o público ou para fora do país. Os resquícios disso tudo eram convertidos em pano de fundo da série de livros protagonizadas pelo inspetor Martin Bleck, do mesmo modo que hoje em dia outros autores tentam usar como cenário as misérias de seus respectivos países, como é o caso de Henning Mankell e Jo Nesbo.
Dirigindo o olhar ao noir norte-americano, Sjöwall e Wahlöö construíram um personagem mais humano, melancólico e contraditório do que outros detetives da época, mas longe de Hammett e Chandler. Roseanna foi o primeiro volume da série de dez novelas que garantiu o título de uma das melhores séries policiais modernas, a Record lançou essa obra-prima recentemente, com tradução cuidadosa de Maurette Brandt.
SINOPSE: O corpo de uma mulher de origem desconhecida é encontrado durante a dragagem de um lago na Suécia. Sem qualquer pista de quem poderia ter cometido o crime, o inspetor Martin Beck mobiliza sua equipe em uma busca internacional por um assassino sem nome e sem rosto. Passados três meses, tudo o que sabe é que a jovem se chama Roseanna e pode ter sido assassinada por uma das 85 pessoas que estavam em um cruzeiro pelo Canal de Göta. Ao longo de meses de investigação, a lista de suspeitos, antes inexistente, ganha alguns nomes, até a polícia se deparar com um assassino cruel, que possui uma noção peculiar e doentia do que é certo e errado.
Como primeiro volume, conheceremos o protagonista e os personagens recorrentes da série, onde os autores documentaram muito bem para contar com realismo o desenvolvimento da investigação policial, de forma que temos os procedimentos e os trabalhos contados detalhadamente. Porém, pesa os quarenta anos de sua primeira publicação, em comparação aos que temos hoje em dia. Não só há uma infinidade de livros, filmes e séries de TV que nos mostram com detalhes de uma investigação policial, como também conhecemos uma infinidade de inspetores e detetives igualmente ou mais carismáticos que Beck, com seus fantasmas pessoais discorrendo em meio da investigação. Mas afinal, vale ler Sjöwall e Wahlöö atualmente?
Minha opinião é que precisamos entender o contexto e analisar os elementos que fizeram tão revolucionários em sua época. Ou seja, pela agilidade da narrativa e pelo senso de humor que é abordada, sutil e inteligente, presente em Roseanna, mas que marca Martin Beck nas obras seguintes. A crítica social é outra característica a favor, tendo em conta que as coisas não mudaram tanto deste então. Apesar dos anos, a leitura seguiu bem, estimulante a cada página e como hoje nada parece surpreender no gênero, voltar a ler é uma boa em reconhecer a grandeza do gênero que nos últimos anos retoma o gosto aos nórdicos policiais.