Um labirinto é um deslocamento circular de ideias, de permeios de entradas e saídas que se bifurcam no próprio processo do caminho artístico. O que poderia também ser um boa imagem da feitura de um álbum, onde se preconcebe um ideia de início, um tipo de condução sonora, quais estilos, trilhas, irão tocar nas paredes deste labirinto. Farão eco com reverberações, misturas, variações, onde um álbum a cada faixa ou na sua sequência irão formar relações da composição/letra num ritmo fechado pro todo? Ou singularmente suas partes irão só se fechar na saída deste labirinto, ao final da audição do álbum?
O belo trabalho de Joel Timoner em Labirinto pelo selo Circus, produzido por Swami Jr. passeia por caminhos entre paredes tão vibrantes e num chão imantado de belos versos onde cada composição estabelece uma entrada para um belo jardim quando canção e poema florescem de forma harmônica e engenhosa. Com bela reunião de cordas na maioria das faixas adornando as melodias, que de faixa à faixa variam de gêneros indo do samba ao jazz, com arranjos tão bem cuidados pela produção musical, quanto pelo ótimo naipe de músicos como Sergio Reze na bateria, Swami Jr no violão de sete cordas e baixo.
Há um extremo cuidado com as letras, muito bem individualizadas com relação à métrica sonora. Alguns destaques com a letra da faixa que abre o disco, ‘Cuidado’, com bela melodia, uma ode bem atual aos caminhos do afeto e cuidado ao próximo. Atenção à métrica do poema se equivale à boa preocupação com uma espécie de sociedade líquida que vivemos onde as relações se tornam um tanto mercadológicas.
Na segunda faixa um belíssimo poema em espanhol, Traigo Passion, do poeta Roberto Cordova com melodia do Joel. ‘Dessin en noir et blanc ( desenho em preto e branco)’ em francês num belo exemplo de criatividade entre a base, envolvendo acordes sincopados de baixo e bateria, num jazz atrevido, na tradução para o português revela uma linda letra sobre uma belo tabuleiro de encontros de amantes tecido por belas metáforas.
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