“Isca, Vol. 1” é o primeiro disco autoral da banda Isca de Polícia após a partida do seu criador Itamar Assumpção (1949 – 2003). Faz cerca de quatro anos que pintou vontade de gravar e aos poucos eles fisgaram parceiros, antigos e novos admiradores confessos e amigos. Estes encontros renderam dois álbuns de inéditas, o primeiro acabou de sair da fábrica e ser lançado no Sesc Pompeia, o segundo virá no segundo Semestre. Confira abaixo a entrevista concedida por Paulo Lepetit e Vange Milliet à Revista Ambrosia falando sobre este novo trabalho.
Ambrosia: Como foi pensado este “Isca Vol. 1”? Embora exista alguns elos (a veia suingada) com a época do Itamar, o álbum ficou com uma identidade de vocês nas composições. Como foi?
Paulo Lepetit: O CD foi pensado a partir da solicitação de uma nova geração, que começou a acompanhar nossos shows. Perguntavam onde encontrar discos da Isca, mas só tínhamos trabalhos com Itamar. Surgiu, então, a ideia de fazer um trabalho autoral. A banda tem uma linguagem que surgiu nos anos 80, proposta pelo Itamar, mas que continuou evoluindo ao longo dos anos, mesmo após a morte de seu criador. Nunca paramos de tocar e, sempre que nos reunimos para tocar, a identidade Isca aparece – seja nas composições, seja nos arranjos.
A: Como foi a participação dos convidados? vocês chamaram compositores que tinham um forte ligação com Itamar, como foi esta participação de cada um?
Lepetit: Chamamos pessoas que sempre se declararam apreciadores da música de Itamar e da Isca. Recebemos as letras destes compositores (a maioria feita especialmente para nós) e fomos musicando. Alguns deles participaram das gravações, como Arnaldo Antunes e Zeca Baleiro. De Tom Zé aproveitei um trecho da música que ele nos mandou e usei na introdução.
A: A cozinha rítmica está excelente tanto o baixo como a batera. Como foi feita esta base melódica tão cheia de suingue?
Lepetit: A “cozinha” sempre foi o alicerce da banda. Geralmente, construo as frases principais e, depois, tocando juntos, vamos aperfeiçoando. É uma coisa muito natural para nós tocar desta forma.
A: Como foi o trabalho vocal para este álbum? Há uma forte veia teatral na leitura das letras, ficou muito bem sincopado ao baixo e a bateria da cozinha da banda.
Vange Mililet: O canto da Isca é teatral. Temos um jeito de interpretar com cantos, contracantos, silêncios, divisões, que dá esse aspecto. As linhas de baixo são muito importantes no nosso som. Desde a época do Itamar era assim. Isso permanece. Esse diálogo, esse chão. É uma cozinha que ao mesmo tempo em que te dá uma base, te deixa no ar, livre para poder improvisar.
Neste novo trabalho não é diferente. Gosto de pensar o canto e os vocais como forma de construir essa sonoridade tão particular da banda. Um prazer achar os tempos, as conversas… Essa busca dos vazios, das pausas… Ao mesmo tempo é tudo muito orgânico para nós, pois há anos exercitamos essa linguagem.
A: Há forte acento lúdico nas letras, o que acho que facilita no canto. Há uma certa cadência na métrica dos versos que geram uma veia mais lúdica na hora da interpretação?
Vange: Tem o lúdico, mas tem a contundência. Humor e ironia. O disco consegue ter uma unidade devido à linguagem da banda. Tem músicas de outros autores, parcerias com compositores muito diversos… e mesmo assim tem uma unidade, uma cara própria. Isso vem da forma de cantar, dos arranjos, da conversa das vozes, das guitarras, das linhas de baixo, das sutilezas da bateria.
Entendo o canto como parte da sonoridade da banda. A sintonia entre os integrantes é muito grande. Os arranjos não são estáticos. Nos shows, saem diferentes a cada dia. Uma palavra dita com mais ênfase, leva à uma mudança na levada da bateria, ou a um comentário da guitarra. Podemos descer na plateia, alongar ou diminuir as músicas conforme a interação com o público. Tudo é vivo.
A: Como vocês estão divulgando este álbum, como estão os shows?
Vange: A divulgação está sendo bem bacana. A imprensa deu grande destaque ao disco, jornais, revistas, TV, rádios. Ainda está rolando…
O disco está nas plataformas digitais e o CD tem distribuição da Tratore. Divulgamos também nas redes sociais, onde podemos interagir com o público. Fizemos os shows de lançamento no Sesc Pompeia. Foi um desafio. O primeiro disco autoral da banda sem o Itamar Assumpção. Foi uma catarse. As pessoas embarcaram na viagem, abraçaram o trabalho. Depois já fizemos outros shows e estamos batalhando por shows fora de São Paulo. Faremos Rio, estamos armando BH.
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