Em 1992, com o estouro do Nirvana, o mundo do rock foi tomado de assalto pelas bandas de Seattle. Ocorre que na América mesmo músicos oriundos de outras regiões também faziam uma sonoridade estofada com distorções e guitarras propositalmente desafinadas. A tendência se iniciara ainda no final dos anos 80 com bandas como o Pixes, e até mesmo o R.E.M possuía um aproach com essa tendência, o que se pode ver no disco “Green”, de 1988. Porém, o rock de Seattle foi o deflagrador desses novos rumos que o rock tomou nos anos 90, jogando por terra toda a pose e glamour que estavam em voga, sobretudo no chamado hair metal (conhecido aqui como metal farofa).
Mas, se por um lado o despojamento do grunge de certa forma democratizou o rock, completando o serviço inacabado do punk, por outro criou uma geração de bandas sem grandes ambições. Se formos parar para analisar, o que surgiu de meados dos anos 90 para cá foram bandas querendo se manter à margem, independentes, gravar no quarto de casa e tocar em pequenas casas. Sim, é uma opção, mas o problema é que isso se tornou quase a regra. A exceção talvez seria o Coldplay e o Arcade Fire.
O mérito do Muse é justamente remar contra essa maré. A banda inglesa formada em 1997 em Teignmouth, condado de Devon, quer mais é ser grande. Seus shows são superproduções com telões e pirotecnia, lotam estádios como nos velhos e bons tempos do rock de arena. A ambição também se percebe na sua música, com guitarras pomposas e arranjos épicos.
Essas características estão mantidas no novo disco “Drones” (Warner UK/2015) que acaba de chegar ao Brasil. Puxado pelo single ‘Dead Inside’ – presença constante nas “rádios rock” e canais de música – o álbum mostra plena fidelidade à proposta sonora da banda: belos e ambiciosos arranjos, riffs poderosos e a inconfundível marcação da bateria de Dominic Howard. Os vocais de Mathew Bellamy se mantêm com a característica grandiloquência melodramática.
Os temas giram em torno de introspecção, e reflexão lado a lado com o protesto e a chama revolucionária, seguindo os passos de uma de suas principais influências, o U2. Não por acaso, o Muse abriu os shows dos irlandeses na turnê 360, inclusive na etapa brasileira. A lição foi aprendida, como se pode ver até no conceito de show ao vivo que apresentam.
A atmosfera de “Drones” é essencialmente passional, urgente, dramática e com elementos de teatralidade. Isso fica bastante evidente nas faixas ‘Psycho’ e ‘Mercy’. Em ‘Defector’ o trio evoca o Queen, e certamente Freddie Mercury de onde ele estiver sorriu, assim como os membros remanescentes. A impressão que fica é que “Drones” foi concebido para funcionar na arena, algumas das faixas, como ‘Revolt’, nos fazem imediatamente imaginar executadas ao vivo. E assim o Muse segue fazendo seu rock para as massas sem desprezar a sofisticação e ambicioso sem ser caricato. Uma banda que não tem medo ou vergonha de ser grande.
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