Ao ouvir ‘My Own Worst Enemy’, primeira faixa de “We’re All Somebody From Somewhere” (Dot Records/2016), a primeira impressão para os mais desavisados é que se trata do novo disco do Aerosmith. Afinal de contas, está ali a voz de Steven Tyler, consequentemente sua métrica nas letras.
A melodia também lembra bastante a de sua banda. Mas, logo no final da canção, há um solo de guitarra que não é de Joe Perry, embora lembre vagamente. Mas na segunda faixa, que leva o título do álbum, já fica mais evidente que se trata de um voo solo de Tyler.
Por mais que as mesmas influências que incidem sobre o Aerosmith estejam ali, a faixa tem mais personalidade que a anterior, digamos. E assim segue o disco, se alternando entre faixas que destoam da banda do vocalista (para o bem ou para o mal), e outras que poderiam configurar perfeitamente em um disco de sua principal matriz financeira. Ou seja, não foge a regra dos discos solo.
Lançar um trabalho independente do conjunto no qual faz sucesso é uma necessidade de qualquer músico. Tem um certo valor de reciclagem, liberdade, já que muitas músicas acabam não entrando no repertório do álbum na ora da votação dos membros. O disco solo é uma boa oportunidade de trazer essas composições engavetadas à luz. Esse é o primeiro voo solo do bocudo vocalista, mais conhecido como xerox americana de Mick Jagger.
Mas ao contrário do Rolling Stone, que se lançou seu disco 22 anos depois do início da banda, Tyler levou o dobro do tempo. No caso deste trabalho, não há muita novidade, ou sopro de genialidade ao longo das 15 faixas, distribuídas ao longo de 54 minutos de audição. È rock básico, acenando para o blues e o folk, com a voz rasgada de Tyler uivando e prolongando sílabas e power ballads.
Exatamente o que estamos acostumados a ouvir no Aerosmith, só que com menos riffarama de guitarra, já que Perry não está ali. A falta de criatividade não quer dizer que o álbum seja ruim. Há bons momentos como a charmosa ‘Love Is Your Name’, o folk rock ‘Somebody New’ e ‘The Good The Bad The Ugly & Me’, a melhor do disco, que, coincidentemente, é a que mais remete ao Aerosmith.‘Sweet Louisiana’ também cativa por seu balanço irresistível.
Mas também há músicas dispensáveis como a saltitante ‘I Make My Own Sunshine’, que traz uma incômoda semelhança com ‘Hey, Soul Sister’ do Train. Pegou até mal. A faixa seguinte, Gipsy Girl, também poderia ter ficado de fora sem nenhum prejuízo ao todo. O disco se encerra com uma versão puxada para o blues de ‘Janis Got A Gun’, sucesso do álbum “Pump”, e um cover de ‘Piece of My Heart’, imortalizada na voz de Janis Joplin, que assim como a faixa anterior, não acrescenta muito à versão original, mas é interessante de se ouvir.
“We’re All Somebody From Somewhere” tem como ponto fraco não deixar claro se houve intenção de criar um álbum variado sonoramente, ou se, simplesmente Tyler não soube qual a direção exata tomar. Nesse ponto, não se difere muito do último disco do Aerosmith. Para os fãs da banda, a notícia triste é que esse trabalho solo pode indicar que o fim (anunciado para o ano que vem) realmente está próximo.
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