“É improvável que qualquer retrato consiga fazer jus a Desejo, pois vê-la (ou vê-lo) seria o mesmo que amá-lo (ou amá-la) – apaixonadamente, dolorosamente, até a exclusão de tudo o mais.
Desejo exala um perfume quase subliminar de pêssegos no verão e projeta duas sombras: uma negra
e de nítidos contornos; a outra sempre ondulante, como neblina no calor.Desejo sorri em breves lampejos, da mesma forma que o brilho do Sol reluz no gume de uma faca. E há muito, muito mais do gume de uma faca na essência de Desejo.
Jamais a(o) possuída(o), sempre o(a) possuidor(a), com pele tão pálida quanto fumaça, e olhos aguçados como vinho.
Desejo é tudo o que você sempre quis.
Quem quer que seja você.
O que quer que seja você.
Tudo.”
Sandman #21
Desejo dos Perpétuos, um ser de paixão, frivolidade e esquecimento. Desejo é a mais efêmera dos Perpétuos e seu domínio um dos mais perigosos. Ela faz jus a sua periculosidade pela forma como lida com seu irmão, Sonho. Desde a primeira vez que ele se apaixonou, desejo parece se divertir às custas do romantismo de Morpheus. E desde sua primeira reprimenda as suas ações, seu ódio cresceu até que a destruição do Senhor dos Sonhos se tornasse um de seus principais desejos.
Neil Gaiman afirma que Desejo só se tornou um personagem tão odiável, por que naturalmente, Sandman é a história de Sonho. Os dois verdadeiramente se detestavam e viviam um verdadeiro conflito de personalidade. E com uma narrativa centrada em seu irmão, certamente Desejo sairia como o “cara mau”. Se o contrário fosse acontecer, em “Desire Comics“, os leitores perceberiam a extensão da visão da personagem, que enxergaria o Sandman com alguém incrivelmente irritante e metido, certamente em pouco tempo, ele começaria a se tornar o “cara mau” da trama.
Ainda sim falemos de Desejo. É bastante estranho, mas às vezes tenho a impressão que sabemos ainda menos de Desejo do que de Desespero, considerando que a segunda, ao menos tem todo o mistério relacionado à sua morte. Sabemos que este/a doce e mortal Perpétuo, vive em um local conhecido como o Limiar. Um reino inteiro que é o corpo gigantesco da mesma e nada mais. Sabemos que ela faz sua morada no coração, e que incrivelmente, talvez pelo tamanho de seu ego, é uma figura solitária em seu reino (todos os outros cinco irmãos, considerando que nunca vimos a terra de Destruição, possuem outros habitante em suas moradas, inclusive a Morte).
As únicas vezes na série que vimos as ações de Desejo: são em sua maioria pequenos esquemas contra Sonho, ou apenas uma figuração obrigatória como no caso do Despertar. O meu problema com a personagem, é que de alguma forma ela me parece muito unilateral, muito pouca coisa além de um ser que a tudo deseja e que vê a tudo como “coisas que desejam”. A única ação que realmente me surpreendeu vinda da personagem é o que aconteceu em “Entes Queridos”. Quando Desejo primeiramente tranca o limiar, e em seguida se comunica com Rose Walker, a enviando de volta para a Inglaterra para lhe devolver seu coração. Infelizmente, acabamos nunca ouvindo o que a personagem tinha para dizer, dada a verborragia de sua neta.
Ainda sim, não podemos reclamar do poder e fascínio que sua personalidade magnética exerce nos leitores, não é raro vermos amantes da mesma. E obviamente existem muitos méritos em sua concepção, como a própria bissexualidade, e em grande parte, seu jeito unilateral de ver o mundo (por mais que isso também incomode). São todos bastante coerentes para uma projeção antropomórfica de Desejo.
Dentro de referências mitológicas, é bastante fácil associar Desejo com os diversos deuses e deusas do Amor. Afrodite, Ishtar, Eros, Freya, Parvati etc… É engraçado pensar como normalmente eu costumo a associar desejo como mulher, justamente pela sua semelhança com as diversas deusas ligadas “ao deseja”, muitas delas apresentam as características maliciosas e sedutoras da/o Perpétuo, o que os tornam muito próximos. Para mim, Desejo é entre a sua família, aquela que mais lembra os Deuses de mortais, talvez justamente por ser o aspecto dos sete, que mais é lembrado por estes. Inclusive, é bastante comum fazer preces aos deuses por que se deseja algo, então de alguma forma, junto com Sonho, desejo se manifesta em todas as religiões (mesmo quando o objetivo de algumas é justamente não desejar mais nada). Imagino que ela sorriria cinicamente ao ouvir este comentário.
Desejo é um personagem magnético, sem duvida. O interessante é notar que quem muda de polaridade não é ele/a, mas a forma que nós a enxergamos. Por isso ela nos atrai e repele , dependo de como a vemos. Ou seja , desejo é , como destruição já falou e vc lembrou bem, um ponto de vista. rs
A participação dela em Kindly Ones (Entes Queridos) redime ela completamente de ser só uma “antagonista” somente.
Mas sem duvida ela cumpre com primor o arquetipo do “irmão sombrio” na cosmologia do Sandman sobre o ponto de vista dele.
Bom, todos eles são “pontos de vista”..
O mais engraçado é que meu/minha Desejo seria o Destruição : D
Isso poderia ficar confuso em uma reuniãode família…
Existem outras duas passagens interessantes sobre Desejo que eu acho interessantes:
No Estaçãpo das Brumas, é interessante quando a Delírio faz Desejo ficar sem graça ao dizer que era irônicoela não desejar alguma coisa e tem uma edição especial da série Vertigo Inverno, em que há uma estoria de Desejo. Nela ,queue nao vou contar aqui para não dar spoilers e nem estragar surpresas, Desejo tem uma atitude muito altruísta para com um sátiro envelhecido!
Acho que um tópico onde debatemos sobre a personagem, e eu cito suas ações no penúltimo arco da série, é bastante livre para falar sobre isso. É impossível de se ter uma debate consistente sobre um personagem sem citar passagens e ações do mesmo, portanto não se preocupe.
Ah si, corrigndo-e, o arco aoqual me referí é o Vidas breves e não Estação das Brumas!! Vou procurar aqui em casa sobe essa estória do Vertigo Inverno e te posto aqui os detalhes dessa curiosa estória em breve!