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Primeira temporada de “Ray Donovan” exacerba o inesgotável legado dos “Sopranos”

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“Os Sopranos”, série seminal sobre a moderna noção do anti-herói como símbolo dramatúrgico norte-americano, não para de influenciar a própria cultura audiovisual – infelizmente, só televisiva – a que faz parte. O exemplar da vez é “Ray Donovan”, que acabou de exibir sua primeira temporada pela Showtime e, por aqui, pela HBO Brasil. Criada por Ann Biderman, a série acompanha a vida de Ray (Liev Schreiber, na medida), um homem que tem a função de dar um jeito nos problemas causados pelos ricos e famosos em Los Angeles. Enquanto lida com os reveses das celebridades, tem de lidar de sua família, que pouquíssimo sabe de seu trabalho (muitas vezes, escusos) e, em especial, seu pai  (Jon Voight, glorioso), um ex-detento que tenta voltar a fazer parte de sua vida. O Showtime já confirmou a renovação da série para sua segunda temporada.

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O plot da série quase indica que seria uma versão masculina e sem patrulha moral de TV aberta de “Scandal”, mas seu desenvolvimento ao longo de seus sólidos 12 episódios mostrou o que o interesse do roteiro estava mais no desenvolvimento do meio a qual Ray gravita do que em arquétipos de cartilhas. Além dos casos (nem foram muitos) que tinha para resolver, o protagonista se via em constante conflito com sua relação com a família e suas decisões éticas (próprias) diante das circunstâncias. O enfoque familiar é o mais rico e efetivo com Voight trazendo em si todo um cinismo construído em cima de sua ambiguidade.  Ainda tem seu casamento com uma dona de casa perturbada por amar demais um marido da qual pouco conhece e dois filhos adolescentes que amadurecem diante desse paradigma familiar.
E aí que a série se co-relaciona com o legado “Soprano” dada a profundidade amoral desses personagens sem denotação de julgamentos morais. Tais desventuras de Ray – que ainda mentém um afetivo convívio com três irmãos ordinários que refletem muito do que um dia ele mesmo já foi – vão se azeitando em meio aos episódios, chegando a uma season finale em que o roteiro vai fechando bem muito de seus plots, e estabelecendo o protagonista como grande catalisador de tramas para seu segundo ano. É do homem, mas do que do gênero, de que se trata Ray Donovan. E não era sobre o Tony que Sopranos encontrou tamanha propriedade dramática, a ponto de virar referência desde fins da década de 90?

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