Há algumas semanas, foi anunciado que o filme da Sessão da Tarde seria “Sempre ao seu Lado”, o famoso melodrama de 2009 em que Richard Gere é o tutor de um cão. Gere morre, mas seu fiel amigo continua, todos os dias, indo esperá-lo na estação de trem na hora que ele costumava chegar. Quinze anos depois, em mais um filme do veterano Paul Schrader, com quem já havia trabalhado em “Gigolô Americano” (1980), Gere outra vez enfrenta a morte, mas com um foco bem diferente.
O cineasta Leonard Fife (Richard Gere) está doente, mas nem por isso deixou de ser notável. Continua tão relevante que dois de seus ex-alunos resolvem gravar uma longa entrevista com ele. Fife aceita, desde que esteja sempre presente sua esposa Emma (Uma Thurman), companheira de vida e de trabalho. Ele então decide passar a limpo sua história, que vivia sendo contada cheia de mentiras, e neste processo pode chocar Emma com fatos até então desconhecidos por ela.
Em 1968, o jovem professor universitário Leonard Fife (Jacob Elordi) abandona o filho e a esposa grávida e parte para o Canadá para fugir do alistamento militar para a Guerra do Vietnã – ele é só mais um de sessenta mil homens que fizeram esta fuga. Essa não é a primeira família que abandona, e suas conquistas amorosas também são muitas. Na entrevista, acreditam que ele está delirando, mas o tom recordatório e confessional é levado a sério pelo homem combalido.

Numa reunião de trabalho, filmada em preto e branco a exemplo de outras sequências do filme, Fife está discutindo o poder das fotografias. Ele diz que, sempre que olhamos para uma foto, as pessoas que nela aparecem voltam à vida, não importa quanto tempo tenha passado desde que a foto foi tirada. Atrevo-me a dizer que o mesmo acontece com o cinema. Fotografias e a arte das imagens em movimento surgiram por muitos motivos, e um deles era eternizar momentos, históricos ou não. E, muitas vezes sem querer, conseguiram este intento.
Para não ser convocado para a guerra, Fife finge ser homossexual – numa sequência que acontece em 1968. Os Estados Unidos só deram permissão para pessoas queer servirem nas Forças Armadas em 2010, mas isso não significa que não-assumidos não faziam parte delas antes. Assumir-se não é condição para se alistar, e temendo represálias muitas pessoas escondem sua orientação sexual, mesmo que isso implique, como um estudo mostrou, maiores índices de depressão e estresse pós-traumático.
Nas estantes de Leonard Fife, podemos encontrar os prêmios Genie e Gemini, dados pela Academia Canadense de Cinema. Os prêmios Genie foram distribuídos para produções do cinema entre 1980 e 2012, e os Gemini para produções de televisão entre 1986 e 2012. Em 2013 foram substituídos por um prêmio unificado, o Canadian Screen Awards.

Depois do ótimo “Fé Corrompida” (2017) e do bom “Jardim dos Desejos” (2022), Paul Schrader se desequilibra e entrega um produto mediano. Sobre o tema que o circunda, a finitude, Schrader declarou:
“Eu estava considerando outras possibilidades de história para um filme. Aí, percebi que a mortalidade deveria ser o tema. Ainda saudável, Russell [Banks, autor] tinha pesquisado e escrito um livro sobre morrer, intitulado Foregone. Ele queria chamá-lo de Oh, Canadá, mas havia outro livro com um título parecido, e me perguntou se eu usaria seu título original. Então Foregone virou “Oh, Canadá”.”
Com um ótimo Richard Gere, que inclusive se insere nos flashbacks sem nenhuma explicação plausível, um Jacob Elordi evasivo e uma Uma Thurman surpreendida, “Oh, Canadá” não é um grande filme, mas poderia ser.
NOTA 5 de 10