“O para sempre é feito de agoras“
O escritor norte americano John Green colocou essa frase num dos diálogos de seu livro Cidades de Papel, que assim como outra de suas publicações, A Culpa é das Estrelas ganhou uma contundente adaptação cinematográfica. Essa frase pode resumir aonde a relevância do autor encontra sentido em sua fixação pelo universo de descobertas da adolescência. Cidades de Papel faz uma abordagem tão bem sucedida disso que só reforça o notável talento de Green em contar boas histórias, com a despretensão e (o retrato de uma) ingenuidade de seu público alvo.
A história em si já é envolvente: o amor platônico e idealizado de Quentin (Nat Wolff, adorável) pela libertária (dentro de sua faixa etária) Margo (Cara Delevingne, num interessante caminho das passarelas para o cinema), faz com que o rapaz (e seus amigos) trafeguem numa jornada de auto descoberta e conhecimento. Eles são vizinhos e iniciam uma relação de amizade ainda na infância. Os anos passam e os dois seguem caminhos diferentes, até o dia em que eles se reencontram. Mas no dia seguinte ela desaparece. Quentin assim, parte em busca da jovem e nessa jornada vai descobrindo muitos segredos de Margo e verdades sobre si.
Com os habilidosos roteiristas do citado “A Culpa…”, além do neo clássico 500 Dias com Ela, o filme funciona em tom de fábula realista teen, fazendo lembrar (de leve) a consistência dramática do venerado As Vantagens de Ser Invisível, principalmente na abordagem sensível de como é adolescer emocionalmente. Afinal, nada mais característico para tal do que a busca pelos “agoras” que empreendemos quando estamos entre a infância e a fase adulta.
E o diretor soube fazer disso uma narrativa envolvente com boas doses de comédia (o ator Austin Abrams, que faz um dos melhores amigos de Quentin, é um achado) e um apuro técnico notável (preste atenção no bom uso da fotografia), tornando a jornada pessoal do protagonista um exercício de assimilação direta (quem nunca se valeu da idealização para justificar suas frustrações? Ontem ou hoje…). O final assim, só engrandece a obra ao trazer a retórica do que vinha retratando até ali, ou seja, a curva dramática é clara, mas imponderável.
A (milionária) obra literária de John Green tem seus méritos, e o maior deles é o diálogo consistente com sua gama de leitores. Sua propriedade está em não subestimá-los, muito menos superestima-los. A metáfora das cidades de papel saca esse ínterim de sua obra. Por isso o filme é realmente bom. Pois fica ali na consistência leve e despretensiosa dos diversos “agoras” da adolescência de todos nós.
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