EntrevistasMúsica

Entrevista com a cantora Luiza Borges

Compartilhe
Compartilhe

A cantora Luiza Borges lançou o álbum “Certezas Inacreditáveis” e fará um show no “Quintas do BNDES”, no dia 24 de agosto, no Rio. Luiza é Bacharel em Licenciatura em Música pela Universidade do Rio de Janeiro (UNIRIO) e dentre os renomados profissionais da voz com quem estudou destacam-se os trabalhos com a professora Angela Herz, através dos quais iniciou também sua trajetória como professora de canto e preparadora vocal. Confira abaixo a entrevista que a cantora deu à Ambrosia.

Ambrosia: Como foi a concepção do álbum? Que ideias você teve para atravessar as doze faixas do álbum?

Luiza Borges: Na verdade, quando eu, o André Siqueira e o Tassio Ramos – diretor e produtor musical do CD, respectivamente – conversamos pela primeira vez sobre a concepção do CD já havia muita coisa preconcebida. O Certezas Inacreditáveis é resultado de dois anos de pesquisa de repertório, feita em ensaios e no palco, junto ao público, num show de voz e violão que eu e André estreamos em 2014. Assim, muitos arranjos já estavam estruturados e a relação com as canções bastante aprofundada. Foi inclusive difícil reduzir o repertório para doze faixas, passaram por nós pelo menos umas 20 músicas inéditas durante a temporada pré-cd. O que fizemos, tanto pra escolher as doze canções quanto para enriquecer os arranjos que já existiam, foi buscar manter viva a tônica do trabalho.

O que sempre foi a vontade de proporcionar ao ouvinte uma viagem pra dentro das suas certezas, e dúvidas, íntimas. Ou alguma coisa parecida, rs! Como essas músicas fazem isso comigo, e eu as selecionei por isso mesmo, desejo que elas possam oferecer movimentos dessa espécie aos outros. Para mim, cantá-las sempre foi transformador. E nesse sentido todos os músicos que gravaram conosco somaram muito. Cada um mergulhou lindamente naquilo que tocou; o André escreveu muita coisa, Tassio guiou muitos processos, mas também teve muito a colaboração de cada instrumentista. Todos se entregaram realmente, se relacionaram com as letras, com as melodias, com os significados que pairavam sobre as canções, foi muito gratificante.

A: A poética do seu álbum tem um cunho bastante literário, pelo uso de certos temas regionais e a maneira da linguagem ser usada com forte teor formal. Fale um pouco sobre isso.

Luiza: Que engraçado, não ouço tanta formalidade no álbum todo, rs! Mas eu devo ter me acostumado! Acho que sempre fui assim, não necessariamente fã de um português formal, mas muito ligada às palavras na hora de selecionar uma canção que falará por mim enquanto eu falo por ela. Com canções inéditas principalmente, pois sobre elas não há sequer a áurea que uma música conhecida e todo o seu contexto instauram, independente do que o cantor faça.

Tudo é ali contigo, rs! E eu não consigo trabalhar direito pela perpetuação de nenhum discurso em que não veja sentido, então, no processo de escolha das músicas a parte literária nunca está abaixo da parte musical, confesso que muitas vezes está acima. Mas com os compositores que gravei neste CD eu não preciso me preocupar com isso, eles não desequilibram a dança entre música e palavra, muito pelo contrário. Na minha opinião, cada um, a seu modo, faz traduções bem precisas da realidade a partir dessa combinação. Além do mais, amo poesia e literatura, não à toa meu primeiro disco se chama “Romanceiro”. Até mesmo um livro de poesias me meti a escrever, rs, se chama “Silêncio Absoluto”. =)

Sobre a poética regional, você deve estar se referindo as canções do Thiago Thiago de Mello com o Edu Kneip, não é? Elas fazem parte de um projeto do Thiago que se chama “Amazônia Subterrânea”, em que ele traz lendas amazônicas pra falar da vida, do mundo, da espiritualidade; me identifico muito, é um trabalho belíssimo.

A: A canção “Cinema russo” me chamou muito atenção pela visualidade do poema e o ótimo arranjo para a letra. Deu uma ideia de um tempo morto vazando a existência. Você pensou no cinema como forma próxima de linguagem do álbum?

Luiza: Não do álbum todo, mas poderia, não é? Em “Cinema Russo” com certeza pensei, todos os envolvidos pensaram. Thiago Amud, o autor, fez a canção inspirado em dois cineastas russos. Alexander Sokurov, no filme “Mãe e Filho”, e nos oito filmes do Andrei Tarkovsky; os dois, pelo o que eu entendo, fizeram realmente um cinema existencialista. Então, fico muito feliz que você tenha tido a sensação de “um tempo morto vazando a existência”, acho que acertamos na produção! Rs! O que me emociona nessa música é que apesar desse tempo morto, do cenário árido, de toda a solidão proposta, o amor entre a mãe e o filho ultrapassa todas as dificuldades. Eles continuam se comunicando um com outro e, no fim, marcam encontro nos sonhos, onde não há limites pro existir. Esse arranjo, que sublinhou com tanta competência a história, foi feito pelo André Siqueira, mas teve participação fundamental do Ivo Senra, que tocou os sintetizadores. Ivo pensou com muito cuidado em cada som utilizado e em como encaixá-los na gravação, a alma cinematográfica da faixa foi coroada por ele! Quando escutei pela primeira vez o trabalho completo fiquei positivamente muito impactada.

A: Na faixa “Fardo” o tempo volta a ser o tema do poema e da música também. Uma melodia compassada parecendo um ritmo de escoar das horas, há uma forte relação entre o tempo do mundo natural da natureza e o mundo voraz do homem civilizado. Queria que você falasse um pouco desta relação do tempo com a natureza.

Luiza: Puxa, nunca escutei a música desse jeito que você escutou, achei bem interessante. Na minha percepção, Fardo descreve a trajetória de um personagem que está em profunda crise consigo, ao ponto de se ver separado das naturezas do nosso mundo e do próprio corpo, alguém que se sente escravizado, subjugado pelos desejos carnais, pelas paixões, pelos ídolos, pelos ciclos da nossa vida na matéria. Quando ele acusa a natureza eu o vejo, na verdade, separado dele mesmo, acusando uma parte de si por todo o seu sofrimento. Passa a mim um sentido de total deslocamento em nossa realidade e, inicialmente, de uma disputa entre espírito e corpo. Interessante você ter escutado uma relação entre civilização voraz e o tempo da natureza, acho que o jogo entre duas grandes forças ficou bem claro na faixa.

Na disputa que eu absorvi é como se ser livre fosse apenas possível após se superar os mandamentos e vícios da carne. Em certo aspecto eu acho que é isso mesmo, mas não absolutamente e nem através da negação de todas as naturezas que somos nós e que estão a nossa volta, como o começo da canção pode sugerir. Pode sugerir, mas não confirma! A trajetória que eu assisto termina em superação; após se conectar com tamanho descompasso interno o personagem decide recusar tudo o que o incomoda em sua natureza humana e mundana para se sentir melhor. Mas, veja, não acho que ele tenha exatamente negado a si, afinal, ele deu voz ao sofrimento e permitiu que a dor e o incômodo fluíssem. No fundo, acho que o personagem termina sua caminhada um pouco mais leve e integrado, um pouco mais consciente, com um pouco mais de possibilidade de escolha: “(…) mas enfim largo esse fardo no seu chão, e nele sigo. Tendo assim transfigurado o calvário do destino”.

Acho que essa é uma das canções mais “divã” do repertório, sou completamente fã dessa música! Rs! Nem todos se identificam com ela, fardos são fardos, afinal; só ficam leves depois que a gente estuda seus pesos, o que nem sempre é um movimento agradável de fazer ou de escutar e, às vezes, como você descreveu, leva um tempo, um arrastado “ritmo de escoar das horas”.

A: Como está o trabalho de divulgação do álbum? Tem feito shows?

Luiza: Bastante bom, estamos trabalhando bem a divulgação pelas redes sociais, rádio e em breve televisão! O show de lançamento do disco será no dia 24 de Agosto, no projeto “Quintas do BNDES”, tá chegando! Faremos um show lindo, com uma equipe dos céus, cenário, luz, figurino e uma banda incrível! Todas as informações estão aqui: http://bit.ly/LuizaBorgesNoBNDES ou no meu site, www.luizaborges.com.br

O CD está nas principais plataformas digitais:

Spotify : http://bit.ly/CertezasInacreditaveisLuizaBorges
Google Play : http://bit.ly/CertezasInacreditáveisGooglePlay
Deezer : http://bit.ly/CertezasInacreditáveisDeezer
Apple Musichttp://bit.ly/CertezasInacreditáveisAppleMusic

Compartilhe

Comente!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Sugeridos

Cantor Leonardo é incluído na ‘lista suja’ do trabalho escravo pelo governo

Leonardo, sertanejo conhecido por sucessos dos anos 1990, foi incluído na chamada...

Thiago Malakai antecipa seu próximo álbum com a estreia de “Infalível”

Faixa, uma ode à superação e à força que surge nas lutas...

Insanidade lança quarto álbum de estúdio “Enough to be a Loser”

Insanidade acaba de lançar seu quarto álbum de estúdio auto-intitulado de “Enough...

Festival No Ar Coquetel Molotov 2024 anuncia novas atrações de seu lineup

A programação reúne nomes como Bar Italia (UK), Zaynara (PA), Nega do...

Gatos de Apartamento fala sobre nostalgia e inovação no Rock

Com uma sonoridade versátil e um cuidado excepcional com a qualidade musical,...

Coldplay lança Moon Music, seu 10º álbum

Se você achava que a banda britânica Coldplay já havia dado tudo...

Julies traz reflexãocom reggae no single ‘Calma’

Julies, que é um dos coautores de “Origem”, novo disco do Maneva,...

Marcos Sacramento lança primeiro single de seu novo álbum

Chega às plataformas o single “Voltei”, abre-alas do novo álbum de Marcos Sacramento, intitulado “Arco”,...