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All of Us Are Dead combina habilmente apocalipse zumbi com travessuras do ensino médio

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Um grupo de estudantes inesperadamente se vê preso em sua escola quando um surto de um vírus zumbi irrompe. À medida que o vírus se espalha rapidamente pelo mundo e dentro de sua própria escola, os alunos farão o possível para evitar serem infectados e fugir da situação terrível a todo custo.

Análise

Após o fenômeno mundial de Bong Joon-ho, Parasita, aclamado pela crítica e público mundialmente, a indústria cinematográfica sul-coreana ganhou uma nova atenção antes inimaginável no Ocidente. Não tanto porque não havia bons filmes, basta pensar em Em Chamas (2018), O Motorista de Táxi (2017) ou A Rede (2016), mas porque esses filmes não despertaram um interesse de massa deste lado de cá, tanto que dificilmente encontraram sua distribuição nos cinemas. Tudo muda graças ao vencedor do Oscar 2020 que levantou o cenário do cinema coreano, atraindo empresas de distribuição para trazer filmes de nicho pertencentes à cultura asiática.

O fenômeno midiático de Parasita não passou despercebido nem mesmo pela gigante Netflix que a partir daquele momento passou a focar com força e coragem nas produções seriadas e cinematográficas coreanas, que estão inundando o streaming mensalmente> Exemplos como Kingdom, Sweet & Sour, Sweet Home, Profecia do inferno, Caçadores de Demônios (The Uncanny Counter) e, claro, a aclamada série Round 6, a primeira série coreana indicada ao Globo de Ouro.

2022 abre com outra série, All of Us Are Dead (Jigeum Uri Hakgyoneun) um drama adolescente pós-apocalíptico dirigido por Lee Jae Kyoo (Estranhos Íntimos) e Kim Nam-Soo, sob roteiro de Seong-il Cheon. A história é inspirada no webtoon criado por Joo Donggeo intitulado Now at Our School, lançado de 2009 a 2011, onde narra uma infestação zumbi numa escola da cidade suburbana de Hyosan.

Há alguns anos, o entretenimento sul-coreano vem ampliando os limites narrativos do gênero zumbi. Habilmente o usaram como um veículo para explorar não apenas questões políticas e sociais atuais ( #Alive, 2020), mas também inseriram os mortos-vivos em seus dramas de época (Kingdom).

A história segue um grupo de alunos da mesma classe – On-jo, Cheong-san, Nam-ra, Su-hyeok e outros – que são forçados a ver seus amigos se tornarem zumbis e precisam fugir e se esconder para sobreviver. Jovens sem comida, sem celular, terão que lutar para viver esperando a ajuda chegar, sem saber se chegará.

No entanto, o que faz com que All of Us Are Dead se destaque em meio a essa lista crescente de conteúdo zumbi são os protagonistas da série. A equipe de sobreviventes não são aqueles atiradores e adeptos de matar zumbis, são somente adolescentes que literalmente precisam pegar o objeto mais próximo a eles e usá-lo rapidamente criar uma arma.

A série também encontra seus momentos mais leves, em que amigos dão conselhos sobre como lidar com paixões do ensino médio, enquanto zumbis sangrentos rosnam ao fundo. E indo além dessas interações juvenis, a série se afasta do clichê de manter um cenário de apocalipse zumbi meio cômico. Em vez disso, os diretores optaram em não fugir de confrontar seus personagens com o peso emocional da morte e do caos.

Um bom exemplo é o processo pungente da transformação, no qual o horror decorre da perda de sua humanidade, muitas vezes bem na frente de seus colegas de classe. Assistimos à sensação daqueles alunos em uma dor entorpecente enquanto perdem seus amigos, colegas de classe, professores e familiares, repetidamente. O enredo pesado não parece fora de lugar, já que a narrativa desenvolve os protagonistas ao longo dos doze episódios.

A adaptação garante que a narrativa em camadas não venha somente às custas de cenas de ação, susto e gore bem executadas. Espelhando o título, a direção lentamente dá o público uma realidade repleta de zumbis. E também visualmente, o que começa como uma escola iluminada e colorida, eventualmente se transforma em um lugar nauseantemente enfastiante com a saturação de cores diminuída, à medida que o vírus se espalha.

A fotografia mergulha na experiência zumbi, com as tomadas se movendo rapidamente, nunca se fixando em um único personagem. É um caos ainda maior para os alunos, bem como para o público que assiste, enquanto descobrimos junto com eles, quem sobreviveu e quem não.

Embora a narrativa siga um grupo principal de estudantes, também temos subtramas com outros personagens um político lutando para escapar de seu escritório; um influenciador digital tentando fazer fama; e dois policiais, incompatíveis em seus níveis de coragem, correndo para descobrir um antídoto.

Essas diferentes dinâmicas são criadas para que a série também aborde vários problemas sistêmicos. Com a origem do próprio vírus zumbi enraizado em uma história de bullying, a escola se torna o marco zero para a série explorar as classes sociais.

O tema do bullying é a alma da série, sendo esse elemento que dá origem à própria epidemia e à luta entre os mesmos alunos do ensino médio, que não só terão que escapar dos zumbis, mas também de um valentão implacável. que pretende matar um dos protagonistas para compensação pessoal.

A série pretende lançar luz sobre a questão escolar sul-coreana, mostrando como a própria escola não faz nada para deter esses valentões, que na realidade histórica do país oriental está se tornando um grave flagelo social visto que muitos jovens são maltratados e espancados por seus. mesmos pares. Uma subtrama interessante é criada a partir desse elemento narrativo do bullying que será conectado ao sentido de vírus e seu desenvolvimento.

“O sangue vermelho contrasta com seus uniformes verdes. Através desse contraste de cores, queríamos mostrar a intensidade e sentimento de angústia.”, Lee Jae Kyoo, um dos diretores

A dinâmica de como o governo lida com a crise e seu efeito sobre os alunos também serve como um microcosmo de como as autoridades reagem a situações apocalípticas. Infelizmente, também é aqui que o enredo oscila. A série muitas vezes tenta embalar demais, pois estende duas histórias separadas envolvendo gravidez na adolescência e agressão sexual em vários episódios. Não é gasto tempo suficiente nessas histórias para criar conclusões significativas ou fornecer a esses personagens um final mais humano.

Nos episódios finais, após a conclusão temos uma perda no ritmo narrativo, a série tenta voltar aos trilhos, mas perde o caminho repetindo a fórmula (uma sensação de deju vu abunda à medida que a série avança). Poderia ter menos episódios, oito no máximo, mas o impulso midiático já deixou seus ganchos para uma segunda temporada.

Em última análise, em um gênero repleto de necessidade imperecível de Hollywood de fornecer um conto pós-apocalíptico de zumbis, a Coréia do Sul corajosamente apresentou uma história de sobrevivência, reconduzindo os zumbis a uma reconceituação. Oscilando entre os vivos e os mortos-vivos, a série causa impacto ao centrar o fato de que resistência nem sempre significa força. Às vezes nasce de repetidos atos de bondade.

Nota: Ótimo – 3.5 de 5 estrelas

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Por
Cadorno Teles -

Cearense de Amontada, um apaixonado pelo conhecimento, licenciado em Ciências Biológicas e em Física, Historiador de formação, idealizador da Biblioteca Canto do Piririguá. Membro do NALAP e do Conselho Editorial da Kawo Kabiyesile, mestre de RPG em vários sistemas, ler e assiste de tudo.

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