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“Elis” não consegue ir além de um esboço

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Muito antes de Amy Winehouse, houve uma Elis Regina. Esse explosivo encontro entre talento genuíno e personalidade passional justificou a grande persona dela, que ainda é considerada a maior cantora do país. Sua cinebiografia, Elis, dirigida por Hugo Prata (e belamente fotografado por Adrian Teijido), tenta dar conta de tamanha grandeza, mas o filme, além de não representar a contento o mito, não dimensiona muito bem as propriedades da mulher.

A estrutura narrativa pode ser classicona. E em muitas biografias isso não foi necessariamente um problema. Basta lembrar de Cazuza – O Tempo Não Para, por exemplo. A questão aqui é que os fatos pontuais (e até já muito conhecidos) da vida da cantora vão sucedendo sem uma fluência orgânica dramática, o que acaba por diluir a força de seu arco dramático.

Uma personalidade tão acentuada como a de Elis, merecia uma representação que ao menos denotasse sua complexidade expurgada nas arrepiantes interpretações que dava para o que cantava e adornava sua impressionante voz. Prata opta por investir mais na ambientação que a formara, do que na personalidade que a inquietava. 

Andreia Horta fica ali na linha tênue entre a interpretação e vivência dos maneirismos de Elis, sendo bem sucedida na maioria das vezes. Mas o filme fica o tempo inteiro deixando a sensação de que está preso ao didatismo dos fatos, quando poderia se ater às consequência de ser o que ela era, no mundo que vivera e nas circunstâncias às quais estava atrelada.

O final (trágico) do filme é tão abrupto que perde todo o seu impacto dramático. Ou seja, o filme deixa muito a desejar. Para os muitos fãs (como esse que vos escreve) ainda há fagulhas de satisfação como o passeio musical pela obra da artista. Mas Elis, para o bem e para o mal, era plural e controversa. Uma personalidade que já nasceu para ser retratada no cinema. Uma pena que tenha faltado o que a cantora tinha de sobra: alma.

Leia também a crítica de Salvador Camino feita durante a cobertura do Festival do Rio 2016

Filme: Elis
Direção: Hugo Prata
Elenco: Andreia Horta, Caco Ciocler, Gustavo Machado
Gênero: Cinebiografia
País: Brasil
Ano de produção: 2016
Distribuidora: Downtown Filmes
Duração: 1h 55min
Classificação: 14 anos

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Por
Cadorno Teles -

Cearense de Amontada, um apaixonado pelo conhecimento, licenciado em Ciências Biológicas e em Física, Historiador de formação, idealizador da Biblioteca Canto do Piririguá. Membro do NALAP e do Conselho Editorial da Kawo Kabiyesile, mestre de RPG em vários sistemas, ler e assiste de tudo.

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