Conheci o Caeto acho que em 2009 ou 2008, tomamos uma cerveja e outros drinks pós Troféu HQMix na lendária Mercearia São Pedro, na Vila Madalena. Na ocasião ele gentilmente me presenteou com um exemplar do “Glamour Popular”, revista independente que mais ou menos era um embrião desse fabuloso “Memória de Elefante”.
Já estava tudo ali: as agruras de um jovem sem grana, relacionamentos levemente conturbados e o cachorro tarado. Nesses dias em São Paulo eu estava em companhia de André Dahmer, e a revista do Caeto era um assunto constante em nossas conversas etílicas. A estranheza e franqueza do conteúdo provavam que estávamos diante de um cara que sabe contar – bem – as misérias do dia a dia para quem não tem pais ricos.
Caeto pratica no seu álbum de estréia um estilo que aprecio muito, o autobiográfico suicida. Sobra pra todo mundo: a família, as namoradas, os amigos, ex-patrões psicopatas e principalmente para ele mesmo. Ele não economiza nas tintas para descrever o processo em que ele mesmo entra para cavar um buraco ainda mais fundo, as famosas “escavações arqueológicas”, quando o fundo do poço não é fundo o suficiente. Tudo num roteiro muito bem construído, mas sem truques baratos.
O desenho dele é simples e eficiente, porém nota-se que é um cara que GOSTA de desenhar e usa o desenho como um genuíno meio de contar uma história, não se prendendo a soluções vagabundas, personagens em posições fixas e muito menos atrapalhando o andamento do roteiro (esse é um erro bem comum atualmente: o desenho ser tão bom que ofusca uma história pobre).
No final existe uma possibilidade de redenção, mas não esperem encontrar um Caeto evangélico ou “família”, é o mesmo Caeto, só um pouco mais sóbrio e organizado, vivendo do que gosta.
Hoje em dia o pessoal quer tomar Coca-Cola, mas tem que ser Coca Light; querem comer feijoada, mas sem as partes peludas do porco; bebem caipirinha, mas com adoçante. Caeto nos lembra que viver sem se estabacar vez por outra na calçada não é viver, ou bem se vive ou não se vive.
Pra finalizar, eu realmente não gosto de cachorros – como confiar num animal que é chutado e 2 minutos depois está implorando por carinho? – mas com o cachorro do Caeto eu simpatizei. Parece ser irmão de outro viralata simpático que conheci, o Zé Ruela, adotado pelo amigo Schiavon e que bebia cerveja num pratinho…
[xrr rating=5/5]
Fantástica coluna. Preciso urgentemente pegar pra ler já que lembra muito o cotidiano de grandes amigos que estão na selva de pedra de São Paulo.
Um álbum inesquecível!
É espetacular esse livro. Pena que achar os Sociedades Radioativas mais antigos seja osso…
Puta livro foda e corajoso! gostei bastante, até escrevi (também) sobre ele para o Pipoca e Nanquim http://bit.ly/h17BIl